terça-feira, 22 de março de 2011

ULTIMATO (Uéslei Screeth)

                    
           



Ao chegar em casa me deparei com um ultimato. Uma folha deixada sobre minha cama dizia que se eu não escrevesse nada para a L.O.U.C.A. estaria demitido. Ok, fui contratado a contragosto e simbolicamente (não assinaram carteira e não ganho um tostão), mas já me sinto um escritor improdutivo. É que algumas coisas se passam em minha cabeça quando penso em escrever. Primeiro que não tenho nada para falar que todo mundo já não saiba. E se tivesse, pior ainda, porque teria que explicar como eu sei e os outros não (e isso dá cadeia). Outro problema é que considero o que há de nobre e de mesquinho nas minhas ideias tão intrincadas que se tendo dissociar fica piegas, e se não tento, não vale a pena ser dito.
Entretanto, à parte das minhas insatisfações com meu próprio pensamento, e de certa forma também sendo uma das minhas idéias insatisfatórias, a maior adversidade é que não tenho interesse algum pelo público. Quer dizer, se por qualquer circunstância eu pudesse produzir uma formulação genial, descobrisse um princípio iluminado, também não me aprazeria compartilhá-lo. Desconfio do público em sua inteligência e dignidade. Não o conheço e me parece tacanhamente razoável desconfiar do desconhecido. E aliás, no caso do PÚBLICO DA L.O.U.C.A., DESCONFIO INCLUSIVE DE SUA MATERIALIDADE, razão pela qual topei escrever estas linhas. E com elas espero salvar meu emprego.

4 comentários:

Anônimo disse...

Esse texto é de uns 3,4 meses atrás, tava guardado num envelope comigo, o autor do bilhetinho intimidador fui eu mesmo. Me lembro que subia a Indepência indo pro trabalho quando li e dei uma puta gargalhada quando me deparei com a frase da suposta imaterialidade de nossos leitores.

ass.: Tommy Wine Beer - Editor subchefe da LOUCA.

Cilibrina disse...

tem público sim, oras.

M. disse...

Para provar minha materialidade preciso passar meu cpf?

Anônimo disse...

Toma Screeth!