sexta-feira, 27 de julho de 2012

"Histórias Verídicas Que Provavelmente Nunca Aconteceram" (Sannio)


 

Parte 1 - " As Prostitutas Que Eu Amava" 

Uma rua abaixo à minha.
Ou uma rua acima.
Depende do ponto de vista.
Uma janela enorme.
Um vidro frio.
Hálitos.
Um frio conhecido.
Algum membro enrijecido.
Cabelos que não são os meus em meu rosto.
Risadinhas curtas, não que sejam secas.
Ali, tudo era úmido.
E a secura, estava longe também dos lábios.
O baseado enorme, parecendo um míssil americano.
A cabeça girando.
A carteira de trabalho sem assinaturas.
Um emprego perdido.
Perfume.
Doce.
Encosto o queixo em seu ombro.
Qual é mesmo o seu nome?
À noite ela trabalha.
Eu volto às ruas.
Devo uma grana a um dos donos do apartamento.
Dinheiro fumado.
Sujo no cinzeiro embolorado.
Eu não moro ali.
E ele, o amigo incerto.
É o único morador assíduo do apartamento.
Dentre os seus amigos.
É quente, entre as coxas da moça a minha frente.
Ninguém tira a roupa.
Não acontece um bacanal.
Meu amigo abraça a outra moça enuviada.
O sol erradia orgulhoso de si.
Eu não quero ir embora.
Ninguém quer.


sexta-feira, 13 de julho de 2012

"Ajeitos da Boca" (Sannio Carta)

 

 

 

Parte 1 - "O Ladrão Da Lagoa Que Cospe Fogo"

Trilha sonora de fundo: Trouble” (Coldplay)



Houvera o destino ajuntado estes jovens senhores.

Ou talvez, obra do acaso, obra da espontaneidade cósmica.

Encontrariam-se, ou conheceriam-se, topariam-se, alinhariam-se, na linha do destino e da vida. Em suas mãos calejadas pela torpe solidão boêmia, melancólica e pervertida.

Unidos, não no mesmo espaço físico, mas unidos por afinidades poéticas, filosóficas e até mesmo pelo mesmo tipo de mulher.

E sua breve história, foi mais ou menos assim:

Vivia em Itapuã, “o barbudo que jogava basquete".

Além de um longo nick name. O barbudo que jogava basquete, tinha um sonho. Uma fantasia fantástica, espetacular como Peter Parker.

Sonhava "o barbudo", em unir a nata "intelectualcólica" de Porto Alegre em um super grupo "nerdiano". Pretensos sufocadores de bibliotecárias reprimidas sexualmente.

No início, eram eles:


“Pica", péssimo apelido, ótimos desenhos.

“Garoto Ruivo", péssimo apelido, péssima abordagem em festas de final de ano, da empresa.

“Infierno", apelido cool, texto clássico, pero caliente.

“Sannto", péssimo nome, péssimos hábitos e senso de moralidade.

E finalmente, "o barbudo que jogava basquete": Mentor, bi-ativo nos textos e pai biológico dos "Ajeitos Da Boca".

Parte 2 - “O Asco do Sexo Oral”

Levianamente, os anos foram consumindo a todos.

E o desejo pelos escritos os abandonando.

Com isso a esperança dos leitores do folhetim intérnico foi broxando.

Murchando lentamente nas mãos preguiçosas de seus escritores.

E o blog, "Ajeitos Da Boca" conheceu os seus dias de trevas.

Digladiariam, uns com os outros.

Em um balé ridículo, de culpa e acusação.

Culparam finalmente, a garota do "barbudo que jogava basquete".

Chamaram-na de Yoko.

Incentivaram-na a lançar um disco, com os rascunhos manchados de seu amante (o barbudo que jogava basquete).

E ela lançou.

O enorme fracasso, que seguiu ao lançamento estremeceu a já tão delicada relação "dos ajeitos".

E o rompimento tornou-se inevitável.

“Pica", começou a desenhar quadrinhos eróticos, para pagar as contas.

Infelizmente, os anos de contato com a tinta nanquim o fez contrair câncer.

Disfarça astutamente, os efeitos da quimioterapia com algumas centenas de toucas.

Já tentou o suicídio oito vezes.

“Garoto Ruivo", casou-se com uma colega de classe da faculdade.

E vivem aparentemente felizes, com os gêmeos.

Hoje em dia, a esposa é a sua patroa.

Também na empresa, onde trabalha.

“Infierno", escreve para um jornal de elevada ascensão do estado...

Do estado do Acre!

Nunca mais foi visto.

“Sannto", escreveu um livro "sanntiista” (um conceito inovador, "metapraxiano” (vide "Oh, Rebuceteio!").

E veio a tornar-se um escritor conceituado e muitas vezes imitado (e limitado).

Casou-se com uma ninfeta (um escândalo para época).

Não fez mais nada, desde então.

“O barbudo que jogava basquete", tornou-se "doutor advogado".

E processou a todos os outros "ajeitos".

quarta-feira, 11 de julho de 2012

I - BLOGUEIROS OTÁRIOS (Tommy Wine Beer)





Para Sannio Carta e o meu pivete também!


Acho que era 2009... Verão. Era uma noite mormacenta. Infernal MESMO em Porto Alegre. Eu tomava uma Heineken gelada e monumental como um iceberg. COMO SEMPRE no Élio. Enfim, a HORA PERFEITA!

Eu só tinha 3,50 pra gastar em bebida. O que tornava aquele rito belamente trágico: um homem precisa sistematicamente dirigir-se a um bar e beber uma única cerveja (de preferência da marca que mais aprecia), só assim ele entenderá o que é a vida e o que é ser um homem de verdade. Independentemente de possuir pênis ou vagina, é claro.

O que importava mesmo é a beleza daquela garrafa verde e o saboroso líquido de seu interior. Abri minha mochila, entre muitos escritos, havia uma cópia de e-mail, era de minha garota, Malia, uma linda intelectual negra de um bunda maravilhosa. E ela escrevia tão bem e era tão bela, que sorte eu tive de a conhecer num chat um pouco bobo e cretino.

O Cachorro Quente do Élio era o bar que vendia a Heineken, 600 ml, mais barata de poa, pelo menos até onde ia o meu conhecimento de botecos e bira. Só que tinha um probleminha: copos de plástico. Odiava aqueles copos. Assim eu tinha que beber direto na garrafa. O que não era nada mal. Então eu mamava aquela garrafona e o líquido descia pela minha garganta e o álcool chegava às minhas veias e cérebro como uma soda cáustica, que desce por um encanamento, desobstruindo e destruindo tudo que é merda e mandando as preocupações e problemas como dívidas e sintaxe, no mijo, rumo ao Guaíba podre.

Tinha uma TV no bar. E Três quartos de minha garrafa já tinham sido drenados. Eu assistia, distraidamente, uma cena da novela em que o Tony Ramos, e todos aqueles pelos, arretava a Mariana Ximenes, quando o Paulinho chegou.

O Paulinho, que gostava de ser chamado de Paul, era um blogueiro. Mais do que isso: ele era meu colega numa porra de blog que a gente tinha. Mais do que isso AINDA: eu era uma espécie de seu editor nesse blog.

Eu gostava do cara, apesar do seu temperamento pendular, ele sofria de uma espécie de dupla personalidadade, oscilando entre o machão predador despudorado de coração empedernido; e o poeta romântico solitário sôfrego incompreendido, uma verdadeira máquina de suspiros e interjeições melancólicas.

Paulinho, que também era desenhista e pintor, escrevia bastante a mão, e vinha com um monte de desenhos e textos pra me entregar.

Ele escrevia tão bem, ou tão mal quanto eu. Aí dependia do foco desse juízo. Entre nossos camaradas gozávamos da reputação de gênios; para o resto das pessoas não passávamos de idiotas non sense.

Eu tava me fodendo pras regras chatas e cheias de frescuras difícílimas da porra do português; agora o Paulinho era muito pior, ele era o verdadeiro punk do sistema linguístico, transgredindo tudo que é regra da língua seja ortográfica, gramatical... ou de qualquer porra de subdivisão de estudo do idioma. Ele nem sequer passava o seu texto no corretor ortográfico do Word. O que acabava dando mais trabalho pra mim, mas não importava. Eu até tinha tido uma ideia: de tirar uma foto com um sujeito defecando ou limpando o traseiro numa gramática pra colocar no blog. Só que o resto dos colunistas deliberou contrariamente. Ficou na vontade só. E nem ia ser tão difícil encontrar um demente pra servir de modelo praquela foto doida.

Então ele pediu uma Polar litrão, depois sentou. Apesar de ser tão pobretão quanto eu, ele andava sempre bem trajado: cabelo bem cortado, barba feita, jaqueta de couro, camisa social... neste aspecto, até que nós éramos bem parecidos (apesar de que as minhas roupas eram bem mais rotas), nos vestíamos com sobriedade, sem calças justas que parecem de borracha, que anda se usando, nada desse estilo indie, nem hippie-folk, nada de camisas pretas de rock, nem terninhos justinhos, nada dessa moda, nada contra, mas nada a favor, éramos trintões, e nos vestíamos como velhos cidadãos porto-alegrenses.

“E aí Litlle Paul!, como vai meu grande amigo e colega escritor urderground, antena da raça, cérebro de sonhos, aspirações, pensamentos e fodas por dar e repartir!” Assim cumprimentei-o num arroubo pseudo-beatnik, e, acho que, usando uma expressão de Ezra Pound. Também essa a única coisa que eu sabia sobre Pound, afora a citação de Bob Dylan em Desolation Row. Mas será que era Ezra mesmo? Não importava, eu nem sequer sabia se era um homem ou mulher. Talvez um gay.

Ele suspira PROFUNDAMENTE, levou o copo de cerveja até a boca, dando uma golada monstruosa, e dando uma entonação melancólica e dramática a sua voz suave diz:

“Mal Tony (ele me chamava de “Tony”, e não era por causa do ator, e sim pela razão do meu sobrenome: Toniollo, aliás, meu codinome no blog era “Tomas Vodka?”), já tive dias melhores, a minha alma é um pássaro louco e ferido, abatido por estilingues de desamor e ódio, que parece voar na contra-mão dos outros pássaros-corações... e cada poema que escrevo é com o meu sangue...

"Vai acabar precisando de uma transfusão!" Debochei.

Ele continuou: Oh!, estes poemas!! Estes poemas Tony, são adagas que vou engolfando em meu próprio coração...” De repente, uma garota boazuda, passa por nossa mesa, e sua fisionomia transmuta-se em absoluto: surgi um brilho em seus olhos, tira um cigarro do bolso, coloca-o de uma forma sensual na boca, formando um biquinho no canto direito, tira a jaqueta, abre um botão da camisa, dobra as mangas, exibindo os antebraços, e diz com uma voz rouca de fumante boêmio fdp:

“Porra, que gostosa! Que bunda! Que pernas! Que decote! Que boca! Só um instante Tony, vou convidá-la pra reuniãozinha de hoje! Já volto!” E se foi.

15 minutos depois, ele voltou.

“Que puta!, não aceitou o convite pra festinha. Tu vai direto daqui Tony?”

“Que festa?”

“Uma reunião, aqui na CB mesmo, de blogueiros.”

“ Acho que não vou não, tenho que acordar as 4 amanhã.”

“Que porra é essa de acordar tão cedo? Tá fazendo o telecurso?”

“Trampo cara. Ainda não me chutaram. Ainda to como entregador do Correio dos Bobos. O resumão da Hora Morta hehehehe...”

“Hehehehe... boa essa Tony... vou pedir outra ceva!”

O Paulinho era o único cara que achava graça nos meus ditos, achados. trocadilhos e aforismas sub-espirituosos. Como era generoso esse Paulinho. Fazíamos concessões mútuas. E nessa “punheta intelectual” íamos em frente, sonhando com o dia em que alguma coisa mudasse e que nossa escrita e seus desenhos e pinturas fossem reconhecidos. Por isso eu até o chamava de Paul. Que era o seu pseudônimo no “Sandynistas Jr.”, o nosso blog.

“Vamos então Tony?”

“Já falei que não posso...”

“Por nossa arte cara, pela Literatura... e por algumas bucetas!”

“Não dá cara... além do mais tem a Malia.”

“A Malia? Porra cara!, ela não é sua garota! Ela ta no outro lado de nem sei que porra de oceano! Na África! E deve ta fodendo com um africano, com um caralho do tamanho do meu antebraço!”

É meio embaraçoso pra eu falar nisso. É que eu tenho uma “namorada virtual”. Uma universitária angolana, que eu nunca sequer beijei e mora na Àfrica.

“Ela é minha garota Paul. E eu tenho um PACTO com ela.”

“Ora cara você tem um PACTO e um PAU! Não se esqueça disso: você tem um PAU! E um escritor não pode viver só de masturbação!”

“Não, não vou. É a minha ÚLTIMA palavra.”

Cinco litros de Polar depois eu havia MUDADO DE IDEIA, convencido a dar uma passada na festa. Bêbado, eu digerira facilmente a lavagem cerebral do Paulinho, ainda mais com aquele papo de “escritor”. Se uma mulher me chamasse de “estupendo amante” não teria me envaidecido tanto quanto alguém me chamar de “escritor”. Mesmo que fosse o Paulinho.

Lá íamos nós e nossas biras, DOIS leitores incipientes, metidos a ARTISTAS INCOMPREENDIDOS, pra uma celebração de blogueiros sem leitores. O que éramos afinal? Palhaços a procura de um picadeiro? Macacos em busca de um zoológico? Talvez.

II - BLOGUEIROS OTÁRIOS (Tommy Wine Beer)



Chegamos à festa. Dois clichês de álcool ambulantes. Havia muito mais homens que mulheres. Muito mais gays que heteros. E muito mais lésbicas que mulheres hetero.


Tinha um DJ também. Notei que depois de uma sequência de sons, o microfone era liberado pra alguém ler alguma coisa. Até que tava legal!

Além do mais a cerveja tava gelada, no fim das contas é o que importa.

Peguei um trago e já havia perdido o Paulinho de vista. Agora ele tinha muito trabalho pela frente. Um trabalho árduo pra cacete: descolar uma garota.

Se eu não conhecesse bem o nosso poeta “urder...” ele devia estar fazendo contatos, tentando descobrir quem era a anfitriã da festa. As anfitriãs de festas sempre estão muito excitadas e loucas quando oferece uma festinha, o que facilita as coisas para o nosso Don Juan.

Tomei mais duas latinhas e me deu aquela puta vontade de mijar. E o que é pior tinha comido um cachorro-quente que parecia estar revoltando-se em meu estômago. Precisava achar um banheiro mocó, em que eu pudesse relaxar, por que a coisa ia ser feia, com muitos flatos barulhentos e um fedor infernal.

Já tava bebaço, então subi umas escadas, certo que ia encontrar uma suíte lá em cima, pra cagar com privacidade.

Achei! Virei o trinco. Aberta! Havia uma baita cama linda. Um computador. Um pôster do Dylan, outro do velho Kerouac, e um do subcomandante Marcos. Bacana a decoração mesmo!

Outra portinha. Era o banheiro. Entrei, cerrei a porta e com as luzes apagadas, comecei a cagar. Ás vezes, a vitória pessoal de um homem se resume a um gesto tão prosaico, pensei, cá com meus flatos. Cagar! Basta fazer um cocôzinho e um cara pode reorganizar seus pensamentos! Acho que essa reflexão era do Velho Safado. É não podia ser minha. Pensei em Malia, meu amor, e em minha maldita escrita. Será que eu estava evoluindo como escritor? “Ploft”, um cagalhão e tanto bateu na água que respingou em minha imaculada bunda branca de blogueiro.

Ouvi um barulho, a porta do quarto se abriu. Ouvi vozes. Havia uma voz de garota. E, Putz, era a voz do Paulinho, o grande Paul triunfara novamente! E eu ali, seria pego literalmente com as calças na mão? Como a sorte de um homem pode mudar assim tão depressa? Porra! Raios Triplos pensei, parafraseando o Dick Vigarista. Sim, era o que eu era: um vigarista.

Havia uma chance. Eu podia ficar em silêncio. Era só o meu cu não me trair e dar um estrondoso peido. Que talvez eles fodessem e voltassem para a festa sem me dar o FLAGRANTE. Silêncio cuzinho, por favor!

Fiquei ouvindo a conversa deles. A garota era mesmo a dona da casa. Chamava-se Mariana. Trabalhava na livraria Cultura. Mariana “Fante” era seu pseudônimo. Duvido que o Paulinho tenha lido Fante, ele era fissurado em quadrinhos e aquela baboseira oriental do tipo Gibran. Talvez o pau dele tivesse lido! Que sortudo!

Ela tava numa de “papo cabeça” pra cima do Paulinho. E ele de PILEQUE, e, provavelmente, com uma EREÇÃO louca, devia estar encontrando dificuldades pra se concentrar no discurso da menina. Como a vida é trágica, louca e empolgante! E eu ali cagando!

Porra, ela tava bombardeando o cara de informação e questionamentos:

“Nós os blogueiros somos a resistência, somos os neo-beatnik’s... os neo-punk’s...os neo-cyber-guerrilheiros-contra-culturais...”

“E nós éramos mesmos”, pensei! Senti até certa latência no meu pau, não tinha nada a ver com o lance do eventual sexo que rolasse entre a Fante e o Paulinho, eram as suas palavras, só as palavras, nada de sacanagem, eu tinha uma garota, e não era chegado em surubas, nem em voyeurismo, muito menos naquela modalidade AUDITIVA, que eu talvez estivesse inaugurando, em meus eternos delírios de vanguardismo!

Agora era Paulinho, em sua contra ofensiva. Muito ASTUCIOSA, registre-se. Tirou sua camisa pra mostrar sua tatuagem. Uma boa tatuagem! Ajudei-o a bolar a ideia. E o desenho era dele mesmo! Nada mais, nada menos do que JESUS e CHE GUEVARA bebendo juntos.

Claro, ela achou o máximo! E mostrou-lhe uma teta, com a seguinte mensagem: “seja marginal, seja herói!” Aquilo enlouqueceu de vez o Paulinho!

Mariana veio com uma teoria antropológica sobre as tatuagens, ela disse:

“Bah!, tive um insight cara! As tatoos...inclusive eu adoro fotografar tatoo. (...) E o teu blog, sob este PRISMA, ele tem esse VIÉS que em termos de SEMIOPTICA...?

Paulinho tava ficando PUTO. Partiu pra uma técnica intitulada kamikaze, de autoria de um colega de blog, o Fogueirinha:

“Olha, vem cá, sua puta, olha aqui o meu blog!”

E foi abrindo o feixe da sua calça...

Ela contra-argumentou, SECA e MORDAZ, como um Bukowski de buceta:

“Mas isso não parece um blog, com muito boa vontade um TWITTER.”

Aquelas palavras doeram ATÉ em mim. Como um soco de Sugar Ray Robinson. Um direto dele!

Paulinho ainda teve jogo de cintura de dizer:

“Com licença senhorita, está tocando os Dire, e confesso que esta canção é como um imã a me atrair para a pista de dança...”

“Ah, vá se foder cara! Some daqui!”

“Que puta insolente!,” pensei. Aquilo tinha extrapolado! Me levantei com o rabo sujo, abri a porta e disse:

“Olha aqui sua puta”, quando olhei pro seu rosto ela havia apagado! A melhor vingança que consegui pensar foi em NÃO dar a descarga. Deixei toda a merda lá, pra ela admirar a obra-prima de um colunista dos “sandynistas”.

III - BLOGUEIROS OTÁRIOS (TOMMY WINE BEER)




Estou de volta ao térreo do sobrado onde rola a festa. Surpreendo-me ao flagrar Paul aos beijos com uma menina de cabelos vermelhos. É isso garotão, perdeu uma batalha, mas não a guerra!

Dirijo-me ao bar. Peço uma cerveja e uma vodca à garçonete. Pego as bebidas e sento-me numa mesinha vaga. Toca um bonito dum “eletro tango” fico sensibilizado pacas.

Uma garota se dirigiu até mim, com um drink de cor exótica.

“Oi, tu é blogueiro também?”

“Ahã.”

“Legal... ah, e o meu blog é... eu o definiria como...”

“A tá...” respondo, falseando desinteresse (me amarro em blogs, na real).

“E como tu definirias teu blog?”

“Ah, meu blog são meus ESFÍNCTERS.”

“Esfíncteres! Uau!, o que significa isso?”

“Acho que é merda, vômito, ranho, remela...”

“Ah, interessante... com licença, eu vou ao banheiro...”

“Ok!”

Dali a pouco dois caras pediram pra sentar junto a mim com seus drinks verdes, as outras mesas estavam todas ocupadas. Assenti com a cabeça que sim. Eram dois estudantes de letras. De repente, criaram uma polêmica, discutiam calorosamente, por causa do som alto eu não entendia qual o assunto da disputa. Um dos caras chamou minha atenção:

“Ei, você acha que vai crase na seguinte sentença...?”

“Crase?!”

“É acento diferencial... contração do a artigo... veja bem, é um caso clássico de FACULTATIVIDADE... não acha?”

“Senhores, minha técnica de verificação de crase é bem simples.” Tirei uma moeda de 50 centavos do bolso. “É assim ó: cara vai crase; coroa, não vai.” Joguei a moedinha pra cima, aparei-a no ar, olhei e disse: “Coroa! Então sou do parecer que não é caso de crase! Certo rapazes?! E com licença que vou dar uma mijada.”

Aquela foi demais! Fui dar uma mijada.

Na saída do banheiro encontrei o Paulinho, acompanhado de duas garotas. Uma ruivinha balofinha, de piercing, camiseta do The Cure. A outra era uma mulatinha de cabelo raspado, alta e camisa xadrez.

“Tony! Tony! Eu tava te procurando rapá! Estas duas moças querem conhecer um pouco mais de nossas almas atormentadas! Senhoritas, este é o grande colunista dos Sandynistas: o senhor ‘Tomas Vodka?’ Olha essa é Tina e essa outra a Nanda! O que meninas? Ah, o contrário! Bem, não isso não é importante mesmo... vamos Tony, lá pra cima!

“Olha Paul, já passa das DUAS. Eu vou nessa, trabalho amanhã! Lembra?”

“Cara tu não ta entendendo! Com licença garotas, só um instante...” Paulinho me conduziu até a porta do banheiro, e com um semblante colérico me disse:

“Caralho, velho! O que deu em ti cara? Bebeu água da privada? Fumou maconha estragada? Cara aquilo ali são XOXOTAS! Elas querem SEXO! Uma surubinha amistosa, sem transgressão homossexual de nossa parte! Porra!, eu te coloco numa barca dessas, e tu o que vai fazer? Dar pra traz? Go ahead Sandynistas!”

“Não vou participar não.”

“O que?”

“Eu amo a Malia cara!”

“Ah, vai pro inferno seu bicha!...”

Lá foi o homem-foda. Revoltado! Mas ele que vá se foder!

“Garotas vocês não vão acreditar! O meu amigo é uma bicha! Esqueçam esse cara! Eu dou conta de vocês sozinho, vamos lá pra cima! Pra dark room hehehe...!” Era a risadinha nervosa do Paulinho.

“Ei cara nada feito, sem o outro cara NÃO VAI ROLAR!” Disse a garota negra.

“É isso aí!” Ratificou a ruivinha. E foram embora. Quiçá procurar uma dupla de pirocas harmônicas.

“Ah suas putas! Levem essas vaginas fedidas daqui!” Paulinho virou-se pra mim, e com o dedo em riste praguejou: “E tu sua bicha... punheteiro de internet!... Tu é um traidor de uma figa!"

“Ah cala boca cara! Cala essa boca suja! Fiz um puta favor pra ti e esse teu twitterzinho hehehe!” Disse aquilo sem pensar. Tava com raiva também!

Parecia que eu havia abaixado as calças do Paulinho ali no meio do salão. Ele ficou DESCONSERTADO. Vermelho como o Beira em dia de grenal.

“Que porra de história é essa? Tu sabe que eu não tenho essa porra de twitter! Quem te falou de twitter?”

Eu ria. Tinha um sorriso maligno em meu rosto.

“Twitter é um micro blog... hehehe... uma analogia simples Paul...micro hehehe!”

Os olhos do Paulinho estavam MAREJADOS. Ele chorava.

“Tu ta ficando maluco cara. Muito tempo sem foder! Acho que é isso!”

Eu só ria e ria, como um bêbado idiota, como um RETARDADO.

“Tu vai me pagar caro por isso punheteiro de merda!” Ao dizer estas palavras ele se retirou foi até o bar. Pegou uma vodca. Depois foi falar com o DJ. O DJ parou o som, pegou o microfone e pediu a atenção do público:

“Pessoal, um minuto de sua atenção, por favor! Esse cara parece que vai ler alguma coisa, ou melhor, parece que ele vai declamar uns versos de memória em homenagem ao seu camarada e colega de blog, o senhor Tomas".

GELEI! Meu corpo tremia por inteiro. O que aquele filho-da-puta iria dizer?

“Boa-noite pessoal... bem, meu nome é Paul e quero dizer umas palavras sobre o grande, o grande CYBER-PUNHETEIRO que não fode ninguém, o Tomas, aquele cara lá, perto do banheiro, lá ó, perto daquelas sapatonas ali. Esse cara tem uma garota que mora em Angola, e eles ficam se masturbando na webcam! Que coisa doentia!...”

As pessoas começaram a me olhar. Grande parte começou a rir. Descalcei meu sapato número 43 e lancei-o na intenção de acertar o filho-da-puta do boca de sacola. Errei feio. E o sapato atingiu em cheio os babacas que tinham me abordado por causa de uma dúvida sobre crase, e naquele momento estavam no maior amasso. E o Paulinho continuava dizendo tudo quanto é porra contra mim. Corri até a mesa do DJ.

“Cala boca cara!” Disse pra ele. Ele nem ligou. Seguiu dizendo que eu não dava uma trepada à quase um ano. Então eu puxei o microfone da mão dele e disse:

“A piroca desse meu amigo aqui tem um apelido carinhoso dado pela nossa anfitriã da festa, a Mary Bandini, ou Fante, sei lá, enfim, o que interessa é que eu tava passando pq eu comi um cachorro-quente do Élio e precisava um lugar tranquilo pra cagar, e fui ao quarto dessa puta e fiquei no banheiro escondido, e ouvi-a chamar a piroquinha do cara de twitter... hehehe... micro-pau!... hehehe”.

“Ah então foi tu que limpou a bunda na minha colcha e nem sequer deu a descarga!” Enquanto ela gritava e tinha um chilique, eu me distraí e o Paulinho me desferiu um puta soco no queixo. Nocaute!

IV - BLOGUEIROS OTÁRIOS (Tommy Wine Beer)




Acordei na porra de um cybercafé. Ainda grogue, virei pra direita, e o Paulinho vinha me trazendo um EXPRESSO DUPLO. “Bom-dia Tony! Que noite dos infernos em? Olha aqui, acabei de postar uns quadrinhos épicos baseados na grande festa dos blogueiros!”

Era verdade. Ele tinha feito os desenhos e já tinha até escaneado! Tinha uma ilustração minha cagando no banheiro daquela burguesinha até! Começamos a rir. Éramos dois idiotas! Dois amigos IDIOTAS que repartiam um sonho de fazer arte, DO NOSSO JEITO. Por mais tosco que fosse.

FINAL! - BLOGUEIROS OTÁRIOS (Tommy Wine Beer)



Peguei uma máquina pra dar uma navegada. Digitei w...sandynistas.blog... na barra de endereços. Meu último post era intitulado “Assim falou Tiririca”, era uma tese que eu tinha bolado uma espécie de RÉPLICA ao doidão do Nietzsche. A ideia era que o cara não devia se preocupar em tornar-se o super-homem nietzschiano e sim o chapolin colorado vodkiano. Era uma apologia em prol dos anti-heróis, como nós, blogueiros, escritores sem maiores luzes, sem editora, sem leitores, sem porra alguma, exceto o tesão sacana pela escrita!

E não é que havia um comentário! Fiquei faceiro pra caramba! Um mísero comentário pra um blogueiro fracassado em termos de leitores já é uma grande coisa, podem acreditar!

Porra, o recado era PEJORATIVO! Dizia assim – “Li teu texto e descobri o que é o suprassumo da mediocridade: grafa-la com L.” E era assinado por um sujeito chamado OLAVO BILAU. E ainda dizia que meus colegas e eu não passávamos de uns blogários (blogueiros otários).

E O Bilau foi duro comigo, me deu aquela mijada, porém, com razão. Eu havia escrito “MEDILCRIDADE”. Havia trocado "l" por "o"!

Foda-se! Não importava! Ainda tinhamos muito o que aprender é verdade! Mas éramos Os Sandynistas porra!

terça-feira, 10 de julho de 2012

"Sadness and Sorrow" (Sannio Carta)


O pai verificava os créditos do celular já sabendo que não encontraria nenhum centavo disponível.


Havia uma mensagem no celular. Uma mensagem de uma garota de dezessete anos.

" Eu quero me regenerar! " - ele pensa.



A mãe brilhava radiante ao sol de Domingo. E seus olhos refletiam o céu anil, de nuvens flácidas. E o sol soberbo, com os seus cachos dourados. A roupa justa, suada em minoria.

O olhar que a persegue, da cozinha recentemente limpa.

- Dia lindo, né amor? - O pai pergunta.

A mãe sorri apenas.

Sua elegância indeformável...

O maço de cigarros amassados no "bolso do canguru". Cigarros do Paraguai. Contrabando brasileiro.

E o pai envergonhado em pensamento. O celular que toca. Pensa em atender. Talvez seja o filho.



A vizinha cumprimenta a mãe, pela cerca.

Olha no visor do celular. " Número desconhecido". A mãe o olhava, distante. O toque permanecia. É tarde da noite. É controversa esta noite. Até nas expressões. Nas impressões da namorada.

- E aí, Jehny?...

Diz o filho.

Do pai. Da mãe.

O filho. Continua:

- O pai não atendeu o celular?

-Não! Tô tentando desde o meio da tarde - diz a namorada.

A casa dos pais, vista de longe. O pai não está. A mãe bebe um cálice de vinho.



Em outro canto da cidade. O carro do pai, mantém o motor ligado.

O filho coça a perna, por baixo do gesso. A namorada acena negativas pela janela. O filho se aproxima dela. O pai arranca com o carro. O vizinho assiste Naruto. O celular toca. A mãe atende.

- Quem é?