quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"O Instinto Crepúsculiano E A Despedida De Caxias" (Sannio)‏


Absorvido pela contracultura local.

Fatigado da rotina beat.

Jovem, acima do peso e ocioso da sociedade.

Não que eu fosse punk ou hippie.

Ou fizesse parte de alguma tribo.

Minha seita era uma gaita de boca emprestada, a pouco roubada.

E minha fé escoara de volta para mim.

Como a urina escoa por entre as pernas dos bêbados.

Deitados sobre os bancos de praças.

Quase arrulhava com os pombos.

Sozinho, sem amigos por perto.

Caminhava deserto.

Em um caminho, que decerto houvesse de encontrar.

Quando me deparei com uma boate aberta.

Uma inauguração de casa noturna.

E no seu interior, figuras soturnas a se esconderem no gelo seco.

Fumaça, que se confundia com a do cigarro.

Carros que estacionavam.

E uma promessa de show ao vivo alegrava tudo isso a minha alma.

E meu corpo, dava sinal de vividez.

Ao rebolar das dançarinas seminuas.

Não era mais na rua que perambulava o meu pensamento.

Era aqui dentro, e o membro imenso (leve exagero poético) a contorcer-se nas calças um amigo de ocasião.

De coincidência, de fato.

De fato, o acaso me sorteava.

E eu sorria do sortilégio, de ter nesse amigo, algum crédito.

Uma dívida de cerveja.

Que eu sabiamente me comprometi a acertar na semana seguinte.

Visto que estaria quilômetros de distância.

Em outro estado, na Bahia para ser mais exato.

De viagem marcada, dívida enterrada...

Uma das, inclusive.

Já que pagara meu amigo de bairro, a qual eu devia.

Com um telefone estragado.

E certamente não havia de esquecer outra dívida pendente.

Com um homem, que nunca foi meu amigo.

Que eu nunca cogitei em pagar.

Que talvez, eu nunca mais o visse.

E tranquilo com meus calotes planejados.

Esperava ansioso a saída das dançarinas.

Para um encontro arranjado.

Esperança criada pelo meu amigo de copo.

De fato e circunstância.

De inocência e generosidade.

Bêbado.

Há doze anos (2000).

Distante.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Melancolia (Sannio Carta)



Não estivesse a alma em sublime transcendência ascendente.
Em elevação contínua e desabrochar constante.
Murcharia em essência, em morna existência.
Em dormência e deixaria de existir.
Suspiraria indolente.
Morreria superficialmente.
E silenciosamente tombaria.
E o corpo, coitado.
Feito do leito amargo.
Pária entre lençóis.
Uno, duplo, em tríade.
Eunuco.
Virgem.
Assombrado pela própria culpa.
Inocente do próprio karma.
Carnal e sanguíneo.
Muscular e energético.
Dialético estafante:
Ser.
Fantasma de fronte a caveira.
Esqueleto sentimental.
Cinza, pó e fé desperdiçada.


domingo, 5 de agosto de 2012

"PEIXE GRANDE" (Tommy Wine Beer)




Você está sublimemente vivo!

É um maldito peixe entre milhões

de anzóis sacanas.

Todavia, está vivo!

 

Seu coração ainda bate man!

Nenhuma mulher destruiu-o

AINDA!

Cuidado, clitóris é um tipo sacana de anzol também!

 

Por outro lado, o poema escrito do jeito que você quer, o redime!

E andar pelas ruas à noite como você quer, o redime!

Uma dose qualquer o redime!


Redimido, infla-se sua glande de paz!

E a paz é o gozo dos gozos!


Você está formidavelmente vivo PEIXE GRANDE!



sábado, 4 de agosto de 2012

" Histórias Verídicas Que Provavelmente Nunca Aconteceram" (Sannio)

 

 

PARTE II - "AS PROSTITUTAS QUE EU AMAVA"

Som de fundo:“Free Bird" (Lynyrd Skynyrd)


 

Eu havia pago a minha dívida de fumo com o vizinho de bairro.


 

E já estava na hora de voltar a visitá-lo.

 

O apartamento permanecia o mesmo.

 

Malas e bagagens de todos os tipos espalhadas pela casa.


Poucos móveis.

 

Sofás, no estilo "sofá da vovó".

 

Para uma pessoa.

 

De couro.

 

Lembro que eram de couro.

 

Ainda era o mesmo apartamento de solteiro.

 

Espaçoso, estranhamente charmoso e bagunçado.

 

E meus olhos inchados, buscavam um raio de sol, por entre as vidraças.

 

Mais uma aula de cursinho que eu não havia assistido.

 

E um lento acréscimo de sociabilidade se avivava em meu âmago.

 

Simpaticamente ou cinicamente, não lembro...

 

Cumprimentei um de seus colegas de apartamento.

 

E entre cigarros, esperei ansioso, pela chegada das "meninas".

 

Chegaram um pouco depois.

 

Com seus sorrisos e seus perfumes.

 

Suas frustrações e suas carências.

 

E nós estávamos lá, por elas.

 

Todos com seus passados que traziam saudades.

 

Olhares melancólicos e solidários.

 

Vivendo na mediocridade da sociedade.

 

Felizes, por terem uns aos outros.

 

Por um breve tempo.

 

Até que enjoássemos uns dos outros.

 

O que não demorou muito para acontecer.

 

Em poucos meses, eu viajaria para outro estado.

 

Mudando de telhado.


De asas abertas.