sexta-feira, 31 de maio de 2013

72 ANOS DEPOIS DE BOB DYLAN ( por Tommy Wine Beer)







 



Yo!, O garoto pensou pois é “nunca mais assistirei o balé

do acasalamento dos esquilos gorduchos, ternos e sarnentos

fluorescentes azuis-limão, caramba!”

Sem falar nas garotas negras e quentes do Alabama...

Só que Garret[1]resolveu lhe dar uma colher de chá

E deixou-o escapar

Levando o corpo de Dylan-jokerman[2]já encantado em seu lugar

No fim das contas tocar o blues em Folson[3]por toda a vida não ia dar

 

 

Agora é 72 d.D.

Obama,Tsarnaev[4], Freixo[5], Marcos[6]... em que cavalo você aposta?

Eu estou confuso, pois o vento idiota não me sopra nenhuma resposta

 

 

Voltando à Zimmy, então ele botou o pé na estrada

só com sua alma, um pouco de marijuana e uma viola quebrada

pegou carona com dois caras incríveis numa caranga roubada

Diziam que iam pra Desolation Row

Convidaram Zimmy, ele agradeceu e disse “pra lá não vou”

Depois queimaram muita erva, Yo!

Zimmy empapuçado vestiu o capuz

E desceu em St. Loius

onde encontrou Bill num beco sórdido chapando

e foi logo lhe contando

como quase havia dançado

E cravou a mesma seringa no corpo cansado

“O que é isso cara, Que barato é esse hein?!”

“Ora isso é um junk de Shakespeare man!”

Então lhe deu tchau

Burroughs[7]lhe disse para se cuidar

Lhe entregou um canela seca e um junk de Howl[8]

E falou “essas armas também servem pra fascistas matar!”

 

 

Mas isso faz um puta tempo cara

Fazer o que?

Agora é 72 d.D.,

Tempo de Anti-Leite-hepático,

Roqueiros apáticos

Verdades não publicizadas

Superbactérias, amebas televisionas[9]

e parasitas de terno[10]ou silicone

flatos e ciclones

Mamas amputadas

Papas e bispos com papadas

crianças subnutridas e desamparadas

E aviões e cérebros não tripulados,

vôos de Cães não-alados

depoentes assassinados...

 

 

e você em que cavalo aposta?

Eu estou confuso, e o vento idiota não me sopra nenhuma resposta

Na Arábia é primavera

No sul da América inverno à vera!

Yo! É isso aí man,

O ano é 72 anos depois de Dylan Zimmerman

E ainda antes de seu sono

Não sei se é o vinho ou o monóxido de carbono

Não, até que em fim o vento me sopra uma resposta

A verdade sempre esteve à mostra:

Dylan imortal e onipresente

quando você morrer fenomenologicamente

apagando sua memória e sua mente

você será mais uma estrela no céu

E ficará ao lado de Guthrie, Elvis, Jack e Emanuel

E é provável que o homem assassino ainda mate e o corrupto ainda Ro(u)be

Mas sua voz imortal ecoará na terra para todo o sempre Bob!





[1] Pat Garret que matou Billy the Kid

[2]Referência ao ator Heath Ledger, que interpretou o coringa e Bob Dylan em Não Estou Lá

[3]Diz respeito a canção Folson Prision Blues de Johnny Cash

[4]Apontado com um dos autores do atentado na maratona de Boston

[5]Marcelo Freixo, deputado do PSOL-RJ, que tem como bandeira a luta pelos direitos humanos e o combate as milícias

[6]Subcomandante Marcos, líder dos Zapatistas

[7]Escritor beatnik

[8]Poema de Ginsberg, outro beat

[9] Aí tem vários: Luciano Hulk, Ana M. Braga

[10]Facinho: Renan Calheiros, Aécio Neves...


 

 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Maldita Beatriz (por Sannio Carta)


 
 PARTE I
 
Fazia um mês que eu não saía de casa.  Um mês e uma barba recém feita. Tenho alergia ao metal. E o meu rosto coçava um pouco, por conta disso. A rua permanecia a mesma. Frívola e nada receptiva. Fosse esse meu único incômodo! Eu já não conversava com ninguém há um certo tempo. Cheguei a pensar em suicídio, mas não queria que o mérito do meu desespero, fosse tirado das minhas angústias e oferecida como prêmio a alguma “ex” de um passado remoto.

Pensei em viajar para algum mosteiro, mas comecei a desacreditar no isolamento e na religiosidade à medida que o meu interesse em pornografia cibernética foi crescendo.

Estava saindo para me alimentar. De corpos e esperanças vãs. A Bíblia do Diabo, foi escrita por um monge. Um monge, que implorou por sua reclusão em uma cela solitária. Eu vi estes dias no Discovery...

Não que eu me importe. Realmente, viver afastado das outras pessoas não é tão ruim assim. E foi assim que Beatriz entrou em minha vida. Em uma conversa de bar. Em uma mesa repleta de cadeiras, mas com apenas duas pessoas sentadas. Contornava seus lábios com os meus olhos. E por vezes, eu apalpava o meu pênis entre os intervalos das suas expirações. É o que ajuda a explicar eu estar sentado junto dela. Eu não gosto de beber sozinho, primeiramente. E depois, decotes tão ousados como o dela, não foram feitos para serem desperdiçados, com olhares de meros libertinos "barfly’s".

Depois de eu fingir interesse, em suas divagações. E ela rir das minhas interjeições (sem graça nenhuma, a propósito). Consegui conduzi-la até o meu apartamento.

Um apartamento quente e seco, como um órgão reprodutor inutilizado.

- Ben!... - disse ela.

- Onde fica o banheiro? - e eu apontei entre risadinhas lascivas a direção.

Sem qualquer vergonha cambaleou até o banheiro.

Permaneci calado observando suas fartas ancas prosseguirem na sua busca por um vaso sanitário limpo (o que não condizia bem com a atual realidade). Enquanto eu urinava em uma garrafa de cerveja vazia. Ouvia o seu urinar frenético do banheiro.

Ao sair entregou-se aos meus braços. E o barulho da chuva que se iniciava lá fora dava o retoque final à sinfonia de gemidos e orgasmos dependurados.

- Ai, Ben! - Beatriz gemia baixinho, enquanto galopava no meu membro encharcado de seu gozo. "Ben". Abreviação de Benjamim. Sei da refutação bíblica, achei de um certo bom gosto do meu pai, até. Ter escolhido esse nome: Benjamim. Confidenciamos nossos casos passageiros e após algumas horas adormecemos.

No outro dia Beatriz era só uma lembrança. Seus cachos loiros se distanciando da porta.

Seu sorriso sem jeito, de um leve embaraço, quando lhe dei bom dia.

Os dias passavam lentos como as chuvas que fizeram moradia na cidade naquela semana.

Então certa noite, ela voltou. Bateu a porta, como se em casa estivesse, e adentrou como se nunca estivesse partido. Estranhamente, com uma única diferença a princípio. Um cheiro acre em seus cabelos e as unhas levemente sujas.

Nos enrolamos então por dias. Apesar da realidade infeliz que me trazia. Beatriz tinha outro, ou melhor, o outro era eu. Então acordei atônito de meu sonho colorido, e lembrei das vezes, que a peguei cochichando ao celular, enquanto ia ao banheiro. Repudiando-a pedi que fosse embora. E ela foi.

Voltei então a cultivar uma barba espessa e tentar me conformar com a sua partida. Mas não me conformava. Decidi então, que sairia ao seu encalço. Descobriria quem era o seu amor e daria um jeito de estragar tudo. Revelando "a ele", "o outro". O nosso affair. Não antes é claro, de escolher uma bela faca de cozinha. A mais afiada e uma das maiores também.

"Apenas por segurança", pensei comigo.

Apenas por segurança...

 

Continua...

Maldita Beatriz (por Sannio Carta)


 PARTE II
Cinquenta gramas é o que pesa aproximadamente o meu celular. Parcas, poucas, pífias e mais um ou dois adjetivos com "p", que possam subtitular as características singulares, da porra do meu celular. Mesmo pesando tão pouco, não fui capaz de levá-lo até um dos ouvidos e ligar. Estranho, pois seriam aproximadamente quinze graus acima do que eu costumo erguer meu cotovelo.

Quando por total falta de respeito próprio encho os beiços molhados de levedura de cerveja. Será que aquelas coisinhas minúsculas estão vivas, como estão vivos os lactobacilos no iogurte? Engraçado!

Engraçado também, feito pronomes possessivos, são os meus pensamentos obsessivos, quanto a Beatriz.

Beatriz não me prometeu continuidade. Nem percebi em seus olhos tampouco paixão inflamada. E eu estava ali naquela rua recém conhecida, por entre as sombras das árvores anãs, naquela noite de Maio. Programando o meu corpo, para um comportamento psico-ciumento vandalista. Ao lado de uma das janelas da casa de Beatriz. Ótimo que ela more em uma moradia, por que rima perfeitamente com vadia.

E como toda vadia que se preze, sua localização é conhecida pelos jovens homens do bairro.

Nada que uma carteira de cigarros e uma cerveja não paguem. Não que eu não pudesse conseguir a informação de outra maneira.

Mas estou guardando a super-violência, para quando for realmente preciso.

A janela pouco geme aos meus avanços. Ao contrário, responde satisfeita ao ser aberta rústica, mas gentilmente. Tal janela, tal moradora.

Ao entrar tenho as narinas invadidas por um cheiro de carne podre. No que parece ser um quarto. Ouço o barulho de um chuveiro em uma porta entreaberta, muito próximo dali. Seguro firmemente a faca de cozinha abaixo do moletom. Minhas mãos suam muito agora. Vontade de mijar.

Quando finalmente abro a porta de madeira antiga, ela faz aquele barulho bizarro de porta em filme de terror. Beatriz lava o seu corpo nu, de costas para mim. Adoro a visão daquela bunda grande, sinuosa e extremamente branca. Que rabo! Parecem duas "Moby Dick’s" se beijando. Em segundos meu pau acorda, a porta arreganhasse, o braço de Beatriz desliza para o seu sexo. O cheiro começa a tornar-se insuportável.

Beatriz percebe a minha presença e selvagemente me ataca em fúria. Rápida, instintivamente rápida. Caio com ela sobre mim, nua. Ela grita, urra maldições que para mim, parecem não ter sentido algum. Meu pau estremece de tão duro. A soco um soco forte e mesmo assim belo. O soco acerta um terço de seu queixo. Ela cai ao meu lado gritando:

"Desgraçado! Desgraçado!"

Eu subo sobre ela, prendendo seus braços com o meu peso. E canalhamente, desfiro mais dois socos. Semi-acordada, sinto suas forças diminuírem. Abaixo então as minhas calças. Dou-lhe tapas aonde minhas mãos alcançam. Viro o seu rosto, agora ensanguentado e levemente deformado pelos meus golpes contra o chão. E inicio o vai e vem naquela bunda. Ela chora, eu bato mais. Mais. Mais. Mais. Quase desmaiada, Beatriz tem tempo de me ouvir urrar, ao jorrar meu sêmen em sua vagina. A porra escorre. O barulho do chuveiro permanece. O cheiro piora.

Me levanto e chuto o rosto de Beatriz, finalmente levando-a a um sono merecido. Suo muito. Murmuro: “O que eu fiz? O que eu fiz?”

Pego a faca. Beatriz dorme tão bela. Como costumava dormir em meus braços. A acerto no pescoço com a faca. Uma, duas, três vezes. A primeira estocada cospe meu rosto de sangue, e quase me provoca um segundo orgasmo. A segunda estocada tem um barulho de osso sendo partido. A terceira, parece ter sido seguida por um suspiro que não ouve.

Morreu sonhando.

Vou até o chuveiro, preciso me lavar.

Há uma banheira ao lado. Reconheço pétalas sobre a água.

E o que parece um vulto também, submerso.

Tremendo, enfio a mão na água e puxo pelos cabelos o cadáver de um homem.

O encaro. Puxo o pênis. Urino naquele rosto cadavérico.

"Bebe, seu corno de merda!"

Tomo meu banho.

Ah...sim. Lembrei de uma música: "Raindrops keep falling on my head..."- cantarolo.

Tive que ficar mais um mês trancado em casa. Vi a notícia do incêndio na residência de Beatriz, um dia após a minha visita. Raspo o meu cabelo agora, não quero continuar com o mesmo visual de quando saíamos. - Pobre Beatriz. Eu gostava dela!

"Raindrops keep falling on my head". Assovios.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

"Vagabundos de Tapes" (Sannio Carta)





“A casa abandonada/As luzes estreladas/O palco mais belo...” (Pública)

Cidade de Tapes, 2003.

Planeta Terra.

"Bem Vindo ao Inferno - Limpe Os Pés Antes De Entrar". Era (e ainda é), o que estava (está) escrito ao lado da entrada do "mocó".

"Ao lado da entrada", por que o mocó, não tem porta. Mas o mocó tem uma janela. 

Um buraco quadrado em uma de suas quatro paredes. Talvez, "os únicos quadrados", representados naquele insano covil de "caretas" e blasfemadores.

Aliás, foi nesta mesma cidade e ano que eu vim a me tornar "o InSannio".

Apelido carinhoso (?), dado por uma universitária bêbada, que eu gentilmente ignorei, para que um dileto amigo, pudesse fazer a corte, sem interrupções do meu indescritível e quiçá irresistível, charme auto-destrutivo.

O mocó era um lugar muito bem frequentado no início.

Antes das invasões dos mendigos e de outros vagabundos, bem menos letrados e conceituados, dentre a pretensa burguesia interiorana.

A nova geração da nata artística da cidade já havia pisado ao menos uma vez no mocó.

Em meio a teias de aranhas e barulho de ratos nos telhados.

Me parece que é sempre oferecida uma receita literária aos que buscam sonhos de revolução e liberdade.

Mas viver os mesmos, quem ousaria?

Nós ousamos!

Rebeldes de causas questionáveis, punks, beats, novos hippies.

Santos e demônios, sagrados e pervertidos.

Éramos deuses das carteiras de trabalho inexistentes.

Quebrado a mítica utópica, voltamos a ser sementes.

Tristes e inocentes de um amanhã que nunca chegará.