quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ombudsman da Bunda Suja (Tommy Wine & Beer)


 

Ou o álcool dilacerou a carne pensante de minha cabeça ou o jornalismo esportivo está mesmo uma bosta insossa.

Mas estes sacanas de sorte, os jornalistas esportivos, eles tem um trabalho moleza e maravilhoso: assistir jogos, entrevistar seus protagonistas e cartolas e bater papo sobre futebol!

Que vida de marshmalows levam esses garotões!

Que inveja! São uns tipos sem muita energia, barrigudos, roupas cafonas! Quase sem brilho, sem expressões, sem cáries por obturar!

Você não vai encontrá-los nas ruas de madrugada fazendo a ronda nos bares da Cidade Baixa ou do Centro. Muito menos pra lá de Bagda num ponto de ônibus em estado deplorável, às 3 da manhã.

São uns bobões pretensiosos, chatos à beça. Mas são bons paradigmas: figuras sem talento que vencem ora porra! Isso os faz admiráveis! Mesmo sendo uns tapados, eles pagam seus bifes, suas biritas e suas esposas e/ou piranhas com o dinheiro que ganham em troca de especulações sobre o futebol!

Mesmo que tudo que eles digam cause sono e prisão de ventre.

A imprensa esportiva local precisava ser incendiada. Quem sabe se as mesas redondas fossem regadas a trago. No mínimo ia ser mais divertido!

Ou talvez eles precisem injetar sangue novo: eu tinha que estar lá, porra! Pra bater boca! Pra vencê-los na argumentação! Ou enfiar suas cabeças na privada.

Mas havia flores neste aterro sanitário: o falecido Cláudio Cabral (número 1) e Rui Carlos Ostermann (o maior vivo). Respectivamente, Niestzche e Shakespeare do pensamento Futebolístico.

No mais é um passar de cachorros sem fim. Emitem opiniões e opiniões, achismos e achismos sem fundamento, sem argumentação, sem dados estatísticos mínimos. Numa porcaria de um palavreado de padre.

E o pior é que eles tratam o público com certo ar de supremacia. Como se eles fossem os críticos abalizados e o público em geral idiotas.

Até minha mãe emite opinião sobre futebol senhores, vão se foder! Daí, tenho eu que bancar o ombudsman aqui, só se for o ombudsman da bunda suja.

Mas estou cansado dessa vigarice revoltante! Será que sempre será assim, os caras de espírito escrevendo em blogs de merda que ninguém lê, lavando privada ou fazendo petições de benefícios previdenciários e os cretinos nas posições de destaque, na maior moleza fazendo arte, ciência, cultura e o caralho a quatro?!

sábado, 19 de outubro de 2013

Cabeça de Porco (Tommy Wine & Beer)


 
A década é de 10. Eu falo de um velho sobrado no centro de Porto Alegre. Quartos pequenos, de madeira vagabunda, paredes sujas e riscadas, fiações terríveis etc.

A década é de 10. Só que do século XXI! Ali eu alugo um quarto, os outros inquilinos são mão-de-obra de baixíssima qualificação: lavadores de banheiro, operários, garçons. Alguns velhos destruídos pelo álcool e por esposas chatas.

Um caso a parte é o senhorio: dizem que ele invadiu essa porra e passou alugar os quartos! Baixinho, cara de poucos amigos, sotaque de gringo italiano ou alemão. Seu nome é Arni, Arni Gonzado.

***

Arni faz todo o trabalho do enorme sobrado: varre, faz reparos de toda ordem: elétricos, hidráulicos, marcenaria... Lava os sanitários INCLUSIVE. Realiza todas estas tarefas braçais aborrecido, com um mau humor terrível dizendo os palavrões mais sujos, praguejando contra todos os governos, amaldiçoando todos os deuses e maldizendo todos os inquilinos.

De repente seu aparelho de telefone celular toca:

“Sr. Arni Gonzado, o Senhor Está com dívida vencida...”

Ele responde tomado de uma fúria descomunal:

“O QUÊ? VOCÊS ME LIGAM A ESTA HORA DA MANHÃ (são umas 10:30) PRA ME CALUNIAR! ISSO É UMA AFRONTA! QUERO FALAR COM O TEU SUPERIOR! ME PASSA O TEU CHEFE!...”

A moça desliga assustada. Então ele faz uma ligação para o tal número da cobrança:

“OLHA AQUI É O SEGUINTE: EU PRECISO COMER A MÃE DE QUEM PRA VOCÊS NÃO ME ABORRECEREM COM SUAS LIGAÇÕES ESTÚPIDAS?”

***

Gonzado conduz o seu negócio com mão de ferro, baixando suas leis draconianas.

Poucos dias depois do acidente em que Seu Luís chegou borracho e caiu na escada da entrada, sujando tudo de sangue, Arni colou com durex, um cartaz na porta com o seguinte conteúdo:

“PROIBIDO CHEGAR BÊBADO NA CASA”

Peixe, Risada, Baixinho, Vô, Pancada e eu, como inquilinos obedecedores das leis de Arni, nosso comandante, passamos a nos embebedar lá mesmo! De jeito nenhum CHEGÁVAMOS de pileque;  

***

Seu Luís ainda teve a maldita idéia de dormir bêbado em baixo do chuveiro ligado! Então fomos punidos com a proibição de utilização de água quente nos banhos em pleno inverno. Isso só aumentou o consumo de trago!

Também houve o incidente em que Peixe deu uma porrada no Seu Luís e este caiu bêbado sobre o fogão danificando-o. Daí, no dia seguinte, cheguei à cozinha e não encontrei o fogão! Olhei mais detidamente e vi um microondas no local. Pessoalmente aquilo não me afetou, uma vez que não sei sequer fritar um ovo. Mas meus colegas que cozinhavam e faziam todas suas refeições ali entraram numa fria. Tenho visto o “Da Vovó” e outro senhor já bastante velho alimentando-se de uma dieta a base de pipoca de microondas!

***

Semana passada procurei Arni para pagar o aluguel e o vi em sua cozinha PARTICULAR, preparando uma comida quente no SEU FOGÃO PARTICULAR e a servindo para os seus amados gatos: Stálin e Calígula.

Entreguei o dinheiro e voltei ao meu quarto, Estava com fome. Abri uma lata de atum e servi um copo de vodka.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Love, Love, Suicídio e Um Baby Doll Vermelho (Sannio Carta)

imagem selecionada por Preta
“Mensurável” a falta de um argumento melhor. Tão mensurável que é possível ser visível.
Nem quisto se é válido como realmente um protesto ou não.
Espero que continue tão vivaz quanto parece. No começo eram só peitos, mas deixa eu ver direito... Tem uma personalidade bonita por trás do soutien de renda (que rende).
Gosto do castanho querendo aloirar-se, gosto dos sorrisos, dos disfarces. Gosto distante mas com certeza melhor do que antes. Até o nome é bonito. Se falo de beleza, tampouco hipócrita, falo do que me atrai, se me distrai as vistas, nem bem merece que peça, desnecessário que insista. Me entrego!
Curto, acho bacana, não nego. Bonito sorriso, não me causa surpresa, nem me torna um seguidor fervoroso. Já vi muitos. Perambulei por alguns, digo, com pouco espaço para o saudosismo.
Faço de novo. Troco saliva. Diz que duvida?
Achava legal, suicídios ensaiados. Mas minha atenção perdeu este foco. Parece agora recalque, que viva, que sofra, sua história, perdas e glórias. Me poupe.
Tantos astros decadentes, morrem contentes em sua despedida. Meio idiota. Desperdiçar uma vida. Se quer ser diferente arrume um martírio. Tão fácil, quando é corda ou tiro.
Deixei aquele baby doll vermelho no outro apartamento. Teve anos pra buscar, desculpa, lamento.
Pensei em levar comigo, me basta ser teu amigo, se quer, se eu quero, talvez, eu consigo...
Ou consiga, pegar uma ou duas de suas amigas, se já não o fiz. Ta, sem mistério, já fiz.
Que sobra de ego, desalmado, mal amado... Credo! (?)

sábado, 12 de outubro de 2013

O Milagre da Compreensão (Tommy Wine & Beer)



É MADRUGADA, 6:49

Acordo com o pinto murcho

Segunda-feira 30 de setembro

Me levanto

Meu cérebro ainda dorme

 

Ato contínuo:

Dentes lavados

Roupa vestida

Sapatos de 30 $ atados

Intestino desopilado

 

Saio de meu quarto

De meio salário-mínimo

A vitória agora é não estar

Arrasadoramente deprimido

E de ressaca num começo

De semana nublado.

 

Tomo as ruas

7:30

Sempre bêbado delas

E eis que vejo algo

Absolutamente formidável!

Senão o MAIOR gambá

Das cercanias

(Centro-Cidade Baixa)

Um deles, sem sombra de dúvida

Estátua viva do Grand’s Bar

Na Lima & Silva

Numa das mãos

Não  o tradicional copo

Sim uma pasta de trabalho

E no lugar da tradicionalíssima

Cara de bêbado atormentado

Um semblante tranqüilo

O caminhar é arrastado

Denunciando seqüela ou ressaca

De bira

Nunca imaginei que esse tipo

Trabalhasse sei lá podia ser encostado na previdência

Ou sustentado pela mãe ou esposa...

Um vampiro-etílico em plena claridade

Como num ballét pela Fernando Machado

Parece que por algumas intermináveis horas

O copo vai ter que esperar.

E pela primeira vez

Numa segunda pela manhã

Não me senti absolutamente

Sozinho.
30/09/13