domingo, 20 de novembro de 2022

"Factotum" (Sannio Carta)

 

Estou cansado de servir as suas mesas

de lavar os seus pratos

de esquentar o seu café

Estou cansado de suprimir o sono

de acenar sem gosto

de erguer um sorriso falso

de conduzir a conversa de forma amistosa

ainda que contradiga tudo em que eu acredito

Estou cansado de suas madames

Estou cansado das putas de suas amantes

Estou cansado de ser o cão


que esperam que abane o rabo

Todas estas pessoas

Todos estes trabalhos temporários

Toda esta falta de estabilidade

Um novo governo

Possíveis novas esperanças

O som do alarme de novo

e de novo

Promessas que eu não irei cumprir

Um gole de uma bebida forte no meio da semana

Um pavio e um fósforo

Numa explosão de ressentimento e solidão

Mais um apelo

O amigo que não suportou 

permanecer vivo

Sobrevivo

Sigo entre os cegos

De trabalho em trabalho

Regojizando das lembranças

de uma felicidade

que um dia eu pensei ser minha

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Outra Manhã de Domingo (Sannio Carta)

-Você só fala em melancolia não tem mais nada interessante para fazer com as bolas? - me perguntou Jéssica com o seu ar zombeteiro e a sua buceta que peidava. -Não lhe fodi o suficiente a noite passada? - respondi com outra pergunta por mais idiota que isso possa ser. Bom, a situação toda era trash. -Você com esse seu pau mediano só me faz gozar na segunda metida. E você sabe que tem de descansar, pelo menos meia hora, para querer foder de novo! - Sentenciou Jéssica. -Olha aqui sua puta eu não sou os mauricinhos que você está acostumada. Se eu tô meio depressivo hoje é por conta dos litros que eu bebi ontem. Aliás, foi a coisa mais prazerosa que eu fiz ontem! - esbravejei. -Ai cara só quero que você mude esse papo de como as coisas estão difíceis e como você está sempre sem grana. É chato! - disse a musa descabelada. -É, realmente, é chato! Desculpa te encher com as minhas "bobagens"! - fazendo aspas com as mãos, como fazem os intelectualóides. -Chega pra lá, quero ver o que está dando na TV. - disse minha eventual companheira. -Por falar em "estar dando", bem que você poderia ficar aqui "bem juntinho" - disse eu sem repetir as aspas com as mãos. Bastava de pedantismo. -Vou pensar no seu caso - disse a dona dos cachos. -Hehe! - balbuciei.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

"O Planeta dos Macacos" (Sannio Carta)

Às vezes as pessoas mais generosas são também as mais egoístas. Um parente que lhe auxilia mas que considera um auxílio do estado a um miserável um incentivo a vagabundice. Um amigo que lhe trata bem, mas não se compadece do pobre. Ou aquele que faz tudo pela democracia e os direitos igualitários mas trai a esposa. Somos egoístas todos nós, sem exceções. Todos olhamos para o próprio umbigo quando nos convém. E é impossível se dissociar do ego. Somos o que somos. A humanidade acredita se perpetuar explorando a natureza. Os ricos explorando os pobres, o perverso explorando o digno. Você se acostuma a difamação. A fofoca maldosa, se é que há fofoca virtuosa? Parasitamos a Terra há muito tempo. E o nosso tempo está acabando. Seremos expelidos como acne pelo próprio planeta que conquistamos. Ou teremos o mesmo fim dos dinossauros e um asteróide, meteoro ou aerolito do Chapolin iniciará o acelerar da extinção. Ou nos mataremos com uma bomba atômica, de nêutrons, nuclear, da puta que pariu... A verdade é que enquanto houver regimes ditatorias ou elegermos presidentes que querem erguer muros, dar poder executivo para o exército, ou se atar ao nacionalismo, uma ideia nazista por natureza, estaremos em perigo. Isso sem falar no fervor religioso que incita as multidões enquanto enche os seus próprios cofres. "Deus, me dê grana/Deus por favor/Deus, me dê grana/Seu filho tá na de horror" (Marcelo Nova/Camisa de Vênus). São só divagações o tempo é seu venda-o como quiser. A sociedade capitalista irá comprá-lo. Irá usá-lo e te fará grato. O trabalho irá te dignificar. Você só terá que desviar dos corpos dos pedintes, dos esfomeados, das prostitutas e dos viciados em drogas, durante o caminho. É só ignorar. Jesus te ama! Apesar de você ser um baita de um filho da puta!

terça-feira, 17 de março de 2020

"Confissão Antes do Fim do Mundo" (Sannio)

 Arte: Sannio




Sou verdadeiro. Muitas vezes, cruél. É difícil não ser cruél enquanto a sua vida enrolasse em tropeços e em incontáveis recomeços. A vida é cruél. A vida engole os seus sonhos e te obriga a dizer "Sim senhor", " Não senhor" e faz você se curvar, até estalar todos os ossos das suas costas. Bem pior é a morte. Vem quando não é benvinda e quando clamamos por ela, ela susurra: "Mais um pouco!"
Engraçado eu ser tão pouco romântico, quando tudo o que eu queria era poder dormir ao lado de alguém com quem eu possa realmente confiar. Do contrário, vou embora. Fecho a porta, pulo a janela, desapareço.
Estou ficando velho, meu caminhar não tem mais a mesma elegância de antes.
Preciso de uma dose. Eu sei. Talvez assim, tudo pareça colorido de novo.