For-mi-dá-vel! Meu
despertador de 1,99 tocou! São 6 da manhã. Tateio a cabeceira da cama vagabunda
do meu quarto vagabundo de pensão que sub-habito como um franciscano marxista a
procura do relogiozinho. Encontro um objeto, é um pedaço de banana que espremo
em minha gloriosa mão esquerda de arremessos precisos! Com a mão suja sigo a
busca cega, encontro o aparelho dos ex-man e com o polegar movo a lavanquinha
da posição on para off.
“Ventura a pobreza,
ventura a patetice”, filosofo em pensamento.
É o inverno mais humano
e suportável que já passei em Poa. Levanto de um salto. É sabido que grande
parte dos gênios odeia levantar cedo. Eu sempre gostei. E de gênio nada tive ou
terei. E no mais não estou de ressaca.
Tiro a bermuda dos
Pacers que furtei de um bom camarada – canabinóico gênio do cartoons - , e noto
que minha benga está murcha! Onde foram parar aquelas ereções fantásticas que eu
tinha ao acordar? Deve ser a sertralina, a nova droga que o doidão aqui está
curtindo! Foda-se!
Visto uma cueca preta
com belas manchas douradas de clorofina e três furos. Calças de terno
ordinária. Uma boa camisa. E os guerreiros sapatos de bico gasto.
Lavo o rosto, removendo
os guisados verdes, uma escovada bem meia-boca nos dentes só para remover o
bafo. Abro minha janela, ainda é noite esplendida, os pássaros dormem, dos
ratos não posso dizer o mesmo. Respiro aquele ar nem tão limpo assim do centro,
como se fosse o ar mais limpo de uma floresta mágica. Estou vivo porra, é o que
penso.
Agora preciso de um
café e queijo derretido! Preparo a refeição rapidamente. Eu adoro álcool! Por
isso bebo com cautela, para poder me embebedar para sempre. E não acabar como
meu primo Gerard que tem cirrose e explodirá com só mais uma gota de trago. Mas
o que quero dizer é que ah, o café é a minha bebida! Ele lubrifica meu cérebro,
catalisa meus pensamentos, dá viço, tesão, ímpeto, força e loucura as minhas
palavras.
É uma terça-feira
atípica, no turno da manhã irei ao dentista. É verdade que sempre caguei um
pouquinho para os meus dentes. A grande maioria dos pobres de poa é assim.
Somos uns porquinhos relaxados em relação aos nossos dentes. Ou seja, pobres
tem dentes podres. Quando os temos, é claro. Agora na tevê e seu ridículo mundo
tão natural quanto recheio de biscoito de morango, as pessoas tem dentes tão
brancos quanto folhas de papel brancas.
Me despeço de meu
belíssimo quartinho, tranco-o com meu cadeado dourado e tomo as RUAS. Escrevo
em CAIXA ALTA mesmo por que as tenho em alta valia. As ruas são santas para
mim. Agora deus e porto alegre escrevo sem esta insígnia reverencial. Escrevo-os
em minúsculas letras, pra que se liguem e cresçam e evoluam e me ofertem
pirulitos de cevada.
Meus dentes estão bens
ruins, preciso confessar. Nunca dei muita bola para eles já disse. Se a beleza
do interior da boca não me sensibiliza. Por outro lado seu odor é uma coisa que
me incomoda mesmo. Odeio hálito de merda!
Daí cheguei ao
consultório. Ingressei no elevador. Entre um gordão e a ascensorista me ocorreu
o seguinte insight “Nós os Tomiello, temos dentes e miolos frouxos e ruins”,
pois é incrível como todos de minha família temos dentes podres e somos loucos!
E a loucura nos cura do tédio, só que nos fode no resto dos aspectos: como
acumular dinheiro e respeitabilidade.
Apresento minha
carteirinha de advogado a recepcionista. Minhas unhas estão sujas e cortadas
desastrosamente com os dentes. Devo ser o advogado mais chinelão do mundo,
penso.
Uma garota ruiva diz:
“São 50 reais doutor.”
Pago a quantia com dor
e pesar no coração. Uma onça! Cinco heineken’s 600 mls e 5 cachorros-quentes
gostosos no Élio!
Observo que brilha uma
mensagem no monitor do seu computador “advogado inadimplente”.
A ruivinha diz:
“O senhor precisa
comparecer a tesouraria Doutor.”
“14 mensalidades
atrasadas querida, tal qual a dívida de aluguéis do Seu Madruga! E corta essa
de doutor, por favor. Não sou doutor, sequer sou técnico em enfermagem. Sou
Tomiello, o advogado das ruas.”
“Ok, doutor, pode
aguardar seu nome ser chamado pela Doutora Florbela.”
“Podia ser Florinda!”
digo, dando uma de palhaço.
Ela riu, eu ri também,
a vida era de fato um grande barato, e eu nunca tocara em cabelos ruivos, em
crespos e dourados sim, ruivos não, exceto talvez os de meu amigo Mingau, um
jornalista e baixista de punk rock amigo de longa data.
De repente ouço “Ângelo
Gubert Tomiello”. Era Florbela pronunciando meu nome, embora de bela não
tivesse nada. Aperto sua mão e ingresso na sua sala. Ela pergunta:
“O que houve Ângelo?”
“Bem, eu sou advogado,
mas também sou escritor e jogador de basquete, e estava numa partida
fantástica, marcando um cara de quase 2 metros de altura e mais de cem quilos,
quando ele me acertou INVOLUNTARIAMENTE uma cotovelada no rosto e me quebrou um
dente! Mas foi sem intenção, ele ficou bem chateado e até me pagou uns drinks
no Mister Xis depois.”
Pura lorota. Eu havia
quebrado aquele por culpa de um pastel. Outros dois eu quebrara mastigando amendoim
chinês e passando fio dental.
Deitei na cadeira, ela
me aplicou aquelas injeções gostosas de anestesia, uau! Quando criança eu era
um frouxo e cagão e morria de medo de ir ao dentista. Agora a dor física não
significava muito para mim. Não me importavam tanto depois de tantas dores na
alma em virtude de guampas e outros sonhos apodrecidos e borolentos.
A anestesia começou a
fazer efeito. Minha boca foi ficando engraçada, sem sensibilidade. Em meu
delírio, me imagina um junkie como Bill Burroughs, tomando um pico da fada do
dente podre, passei a ter visões ou imaginá-las: Bob Dylan disfarçado de Robbin
Hood, Bukowski sodomizando Allen Ginsberg, Dom Quixote guiando uma Harley,
Sannio Carta de barba e cabelos longos tocando Like a Hurricane do Neil Young
numa guitarra cujas cordas eram fios do bigode do Belchior...
Florbela seguiu
tratando meu canal e o pênis da minha alma teve uma ereção afinal.
7 comentários:
hahahhah muito bom meu bom Tommy!!! adorei, principalmente a parte menciona Mingau e Canabinoico
Obrigado Gus!
É uma tentativa de criar um personagem um tanto ingênuo, bobo, que delira com personagens e situações da contracultura, na real ele é um tanto careta até, mas ele tem motivação e fogo nos punhos, canelas e cérebro e vai levando sua vidinha um tanto monótona, e aí ele também um tanto quixotesco, pq ele pensa que está envolto em sitauções mágicas, aventuras incríveis mas não é bem assim.
Também usei o sobrenome GUBERT da vó pela primeira vez no personagem, que sempre foi só conhecido como Angelo Tomiello, pretendo deesenvolver outras personagens da família Tomiello, daí tive o insight de colher umas histórias com tua mãe, pai e outros pra usar de pano de fundo.
Ass: Tommy Wine & Beer.
PS -ESCREVE SUA COLUNA MISERÁVEL WOOP-WINO!!
Agora o blog tá bonito.
Pq ruivinha???
pois é. pq????????????????
Kkkk... Sabia que a minha amigona ia se manifestar! ^ ^
Super amigões ativar!
Forma de comentário bafônico.
hahaha
mas pra falar a verdade, ka entre nós, tb nunca toquei numa ruiva.AINDA!!!!
Acho que eu reaprendi algo sobre às mulheres essa semana. E foi o Chico Buarque que escreveu. Mas foi a Bethânia que ditou: "Terezinha".
ps: Preu, eu já toquei uma ruiva!
Um "L" bem grande pra você. 8p
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