domingo, 18 de agosto de 2013

História Negativa (por Felipe Mutley)



Foto de Tommy Wine & Beer

No meu quarto entra o Bixo-Papão quando estou dormindo. Ele o vasculha a procura da foto da minha ex-namorada, que estuda na Capital e vive com um ex-combatente da guerrilha afegã que expulsou os soviéticos de lá.
No Afeganistão ele conheceu o Rambo, que lhe ensinou a construir uma bomba com biodiesel e fotos de... mulher pelada. O Magaiver que ensinou a Rambo como construí-la, mas primeiro a mim.
O importante é que a foto da minha ex está bem escondida. O Bixo-Papão pensa que estou dormindo. Vai ter que me tocar para me pedir a foto. Mas nem sob tortura, choque nos testículos, agulhas nas unhas, pedra de sal grosso na uretra, não darei a foto da minha ex nua, que tirou a roupa para mim e outras coisas mais, ao inutilmente aculturado Bixo-Papão. Porque o efeito colateral dessa bomba é que a mulher da foto usada em sua fabricação vira puta logo que a bomba explode, e eu não quero pagar para comer minha ex futuramente.
Quando o Bixo me cutuca, toco meu travesseiro nele. Então sua fantasia cai e não é mais Bixo-Papão, e sim minha ex que quer virar garota de programa para arrecadar verbas para mover uma guerra contra sua família de mafiosos.
Levo-a no batuque para que se confesse com o caboclo, que lhe dá uma lição encarnando o Exu e transando com ela; eu transo com ela, e o resto dos Orixás todos também, até Yansã a faz flutuar sobre espinhos de maricá e laranjeira.
Quando ela volta do paraíso da devastação e da insaciabilidade, o caboclo lhe explica que, caso a bomba exploda, ela irá fazer isso todos os dias, mas a partir de então não irá mais gostar, por isso irá cobrar. Mas ela finge não ouvir e dá de ombros.
Saímos do batuque e vamos à rodoviária. Prometo-lhe que a ajudarei no combate a sua família tirana, que mente que coloca fertilizante no café dos empregados quando na verdade é veneno, uma forma siciliana de economizar com os trabalhadores solitários. Minha ex volta mais tranquila para os braços de seu namorido. Então monto a tal bomba e amarro-a na cintura.
A caminho da residência dos grandes criminosos, encontro o Saci usando perna de pau e gordo. Ele me conta que a mesma família da minha ex lhe prometeu uma perna de células-tronco, desde que ele deixasse que plantassem eucalipto nas florestas que antes ele protegia. Mas agora que voltou das férias, ele é um pirata inglês que apreende navios tumbeiros e devolve a liberdade aos negros, instalando-os no Haiti, obrigando-os a produzirem açúcar para alimentar o alienígena do primeiro M.I.B.
Os orangotangos da mansão são gentis comigo. Levam-me à presença do Rei do crime e se retiram. Ele me pergunta quando a bomba vai explodir, e digo-lhe que antes me apresente tudo que custa caro. Vou ao interfone e anuncio o número da minha ex às pessoas da casa, asseverando-lhes que, assim que escutarem um estouro, ela precisará de dinheiro.
O chefão volta com um conjunto de porcelana chinesa e quadros inestimáveis; entrega-me um isqueiro, machado e galão de gasolina, a qual uso para dar-lhe um banho. Depois que destruo tudo que representa nobreza, prendo fogo ao hipócrita porco.
Nos primeiros instantes das chamas, meu ex-sogro passa a guinchar e nos abraçamos. Rolamos no chão e, quando nossos corpos são carne esturricada, a bomba detona.
Acordo num lixão, ouvindo porcos grunhindo freneticamente e sentindo um cheiro de carne queimada. Tremenda sensação repugnante pela manhã me dá dor de barriga, mas não encontro nada ao alcance com que me limpar, apenas pães velhos que bem serviram para improviso.
Saio daquele chiqueiro e encontro o Saci trabalhando como estivador de um navio internacional transportador de lixo; e minha ex, que virou funcionária pública da Rede Estadual dos Portos Privados Internacionais Comerciais Atlânticos (REPPICA), servindo como descanso aos marujos durante as noites invernais do Oceano Cinzento.
Dou-lhes de presente os pães e saio daquele lugar fétido, espalhando meu cérebro aquele lixo importado.

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