terça-feira, 16 de dezembro de 2008

MEMÓRIAS DO CÁRCERE VOLUNTÁRIO NA RESTINGA (por Tommy W&B)

“Um homem pode ser até mesmo destruído, mas nunca derrotado”
ERNEST HEMINGWAY (O VELHO E O MAR)

Por mais incrível que pareça, eu já me submeti a coisas mais degradantes do que as que me submeto hoje, como escrever pro L.O.U.C.A, dividindo este espaço com desqualificados como o Pico ou o Garça. Lembro das Jornadas de Estágio na Restinga: estafantes, monótonas e vazias. Ouvindo mijadas gratuitas da chefia, em razão de cagadas remuneradas, ou por estar fazendo corpo mole. Eu também me sentia muito mal por causa do mauricinho bobão que pouco fazia, entretanto recebendo uma boa grana. E tinha mais atenção da suculenta ninfeta, que em breve a este ofereceria a textura de cetim de suas tetas, e de sua xota aveludada e perfumada. A mim, o perdedor, nem sequer uma mamada. Eu recebia uma merreca e tinha as piores tarefas. Estava ficando louco naquele ambiente entorpecente. Regra geral, na repartição só rolava música ruim e papos xaropes dos acomodados servidores. Havia exceções, claro, algum cara bacana ou uma garota de visão, mas assim como eu estavam sendo engolidos pela avalanche de escrotidão que era aquilo. Sem falar na juíza, uma vaca nazista pérfida e arrogante.

Eu ficava lá perdido entre documentos, protocolos e processos, e as pessoas miseráveis e os advogados picaretas a reclamar e me ofender. Era incrível a diversidade das personagens, farrapos humanos de toda sorte: tipos decadentes, drogaditos fedorentos, mulheres sujas e prenhas aos treze anos. Xingamentos sistemáticos eram desferidos contra mim. Todos a me jogar merda! Eu era a vidraça do sistema! E detinha um poder discricionário, de mando, menor do que o velho desdentado que lava os banheiros.

Mas porra que bom seria estar em casa, eu pensava, com a camisa suja de molho vermelho, fedendo a asa e coçando o saco com a autoridade de um vagabundo. Reinando em meu trono e sendo dono do meu próprio mundo e de minha vontade. Drenando latas de cervejas, sorvendo duplos ou triplos cafés... , dando aquela cagada preguiçosa, essa já não remunerada, e passando os olhos nos quadrinhos do jornal roubado dos vizinhos.

No rádio (com sorte) encontrar Beethoven, Dave Brubeck ou a “veia” Dylan; ou na TV Simpsons, Bob Esponja ou Hermes e Renato. Tirando potoca do nariz e passando atrás do sofá. Limpando os cagalhões dos cachorros no pátio. E depois do trabalho duro, tocando uma pra relaxar, homenageando uma grande paixão, ou, na pior das hipóteses, uma vagabunda vulgar qualquer que pinte na imaginação. O jorro de porra esguichado no chão, por certo já seria alguma forma de redenção, era o que eu conseguia pensar nesse período negro da minha vida, em que me sentia no campo de concentração ao quais os Nazistas submeteram os judeus em Auschwitz.

E como não se pode viver sem eliminar as escórias do corpo, um dia eu explodi.

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