sexta-feira, 24 de maio de 2013

Maldita Beatriz (por Sannio Carta)


 
 PARTE I
 
Fazia um mês que eu não saía de casa.  Um mês e uma barba recém feita. Tenho alergia ao metal. E o meu rosto coçava um pouco, por conta disso. A rua permanecia a mesma. Frívola e nada receptiva. Fosse esse meu único incômodo! Eu já não conversava com ninguém há um certo tempo. Cheguei a pensar em suicídio, mas não queria que o mérito do meu desespero, fosse tirado das minhas angústias e oferecida como prêmio a alguma “ex” de um passado remoto.

Pensei em viajar para algum mosteiro, mas comecei a desacreditar no isolamento e na religiosidade à medida que o meu interesse em pornografia cibernética foi crescendo.

Estava saindo para me alimentar. De corpos e esperanças vãs. A Bíblia do Diabo, foi escrita por um monge. Um monge, que implorou por sua reclusão em uma cela solitária. Eu vi estes dias no Discovery...

Não que eu me importe. Realmente, viver afastado das outras pessoas não é tão ruim assim. E foi assim que Beatriz entrou em minha vida. Em uma conversa de bar. Em uma mesa repleta de cadeiras, mas com apenas duas pessoas sentadas. Contornava seus lábios com os meus olhos. E por vezes, eu apalpava o meu pênis entre os intervalos das suas expirações. É o que ajuda a explicar eu estar sentado junto dela. Eu não gosto de beber sozinho, primeiramente. E depois, decotes tão ousados como o dela, não foram feitos para serem desperdiçados, com olhares de meros libertinos "barfly’s".

Depois de eu fingir interesse, em suas divagações. E ela rir das minhas interjeições (sem graça nenhuma, a propósito). Consegui conduzi-la até o meu apartamento.

Um apartamento quente e seco, como um órgão reprodutor inutilizado.

- Ben!... - disse ela.

- Onde fica o banheiro? - e eu apontei entre risadinhas lascivas a direção.

Sem qualquer vergonha cambaleou até o banheiro.

Permaneci calado observando suas fartas ancas prosseguirem na sua busca por um vaso sanitário limpo (o que não condizia bem com a atual realidade). Enquanto eu urinava em uma garrafa de cerveja vazia. Ouvia o seu urinar frenético do banheiro.

Ao sair entregou-se aos meus braços. E o barulho da chuva que se iniciava lá fora dava o retoque final à sinfonia de gemidos e orgasmos dependurados.

- Ai, Ben! - Beatriz gemia baixinho, enquanto galopava no meu membro encharcado de seu gozo. "Ben". Abreviação de Benjamim. Sei da refutação bíblica, achei de um certo bom gosto do meu pai, até. Ter escolhido esse nome: Benjamim. Confidenciamos nossos casos passageiros e após algumas horas adormecemos.

No outro dia Beatriz era só uma lembrança. Seus cachos loiros se distanciando da porta.

Seu sorriso sem jeito, de um leve embaraço, quando lhe dei bom dia.

Os dias passavam lentos como as chuvas que fizeram moradia na cidade naquela semana.

Então certa noite, ela voltou. Bateu a porta, como se em casa estivesse, e adentrou como se nunca estivesse partido. Estranhamente, com uma única diferença a princípio. Um cheiro acre em seus cabelos e as unhas levemente sujas.

Nos enrolamos então por dias. Apesar da realidade infeliz que me trazia. Beatriz tinha outro, ou melhor, o outro era eu. Então acordei atônito de meu sonho colorido, e lembrei das vezes, que a peguei cochichando ao celular, enquanto ia ao banheiro. Repudiando-a pedi que fosse embora. E ela foi.

Voltei então a cultivar uma barba espessa e tentar me conformar com a sua partida. Mas não me conformava. Decidi então, que sairia ao seu encalço. Descobriria quem era o seu amor e daria um jeito de estragar tudo. Revelando "a ele", "o outro". O nosso affair. Não antes é claro, de escolher uma bela faca de cozinha. A mais afiada e uma das maiores também.

"Apenas por segurança", pensei comigo.

Apenas por segurança...

 

Continua...

2 comentários:

pretissima disse...

como começar?
caro carta
- em tom de humor -
para tratar algo TÃO sério?
apresento pistola
digo, a presente epistola....
a verdade é que tenho
me tornado
neo-sanista.

Anônimo disse...

O q dizer: S2? ;P

Winston Smith