PARTE I
Fazia um
mês que eu não saía de casa. Um mês e
uma barba recém feita. Tenho alergia ao metal. E o meu rosto coçava um pouco,
por conta disso. A rua permanecia a mesma. Frívola e nada receptiva. Fosse esse
meu único incômodo! Eu já não conversava com ninguém há um certo tempo. Cheguei
a pensar em suicídio, mas não queria que o mérito do meu desespero, fosse
tirado das minhas angústias e oferecida como prêmio a alguma “ex” de um passado
remoto.
Pensei em
viajar para algum mosteiro, mas comecei a desacreditar no isolamento e na
religiosidade à medida que o meu interesse em pornografia cibernética foi
crescendo.
Estava
saindo para me alimentar. De corpos e esperanças vãs. A Bíblia do Diabo, foi
escrita por um monge. Um monge, que implorou por sua reclusão em uma cela
solitária. Eu vi estes dias no Discovery...
Não que
eu me importe. Realmente, viver afastado das outras pessoas não é tão ruim
assim. E foi assim que Beatriz entrou em minha vida. Em uma conversa de bar. Em
uma mesa repleta de cadeiras, mas com apenas duas pessoas sentadas. Contornava
seus lábios com os meus olhos. E por vezes, eu apalpava o meu pênis entre os
intervalos das suas expirações. É o que ajuda a explicar eu estar sentado junto
dela. Eu não gosto de beber sozinho, primeiramente. E depois, decotes tão
ousados como o dela, não foram feitos para serem desperdiçados, com olhares de
meros libertinos "barfly’s".
Depois de
eu fingir interesse, em suas divagações. E ela rir das minhas interjeições (sem
graça nenhuma, a propósito). Consegui conduzi-la até o meu apartamento.
Um
apartamento quente e seco, como um órgão reprodutor inutilizado.
- Ben!...
- disse ela.
- Onde
fica o banheiro? - e eu apontei entre risadinhas lascivas a direção.
Sem
qualquer vergonha cambaleou até o banheiro.
Permaneci
calado observando suas fartas ancas prosseguirem na sua busca por um vaso
sanitário limpo (o que não condizia bem com a atual realidade). Enquanto eu
urinava em uma garrafa de cerveja vazia. Ouvia o seu urinar frenético do
banheiro.
Ao sair
entregou-se aos meus braços. E o barulho da chuva que se iniciava lá fora dava
o retoque final à sinfonia de gemidos e orgasmos dependurados.
- Ai,
Ben! - Beatriz gemia baixinho, enquanto galopava no meu membro encharcado de
seu gozo. "Ben". Abreviação de Benjamim. Sei da refutação bíblica,
achei de um certo bom gosto do meu pai, até. Ter escolhido esse nome: Benjamim.
Confidenciamos nossos casos passageiros e após algumas horas adormecemos.
No outro
dia Beatriz era só uma lembrança. Seus cachos loiros se distanciando da porta.
Seu
sorriso sem jeito, de um leve embaraço, quando lhe dei bom dia.
Os dias
passavam lentos como as chuvas que fizeram moradia na cidade naquela semana.
Então
certa noite, ela voltou. Bateu a porta, como se em casa estivesse, e adentrou
como se nunca estivesse partido. Estranhamente, com uma única diferença a
princípio. Um cheiro acre em seus cabelos e as unhas levemente sujas.
Nos
enrolamos então por dias. Apesar da realidade infeliz que me trazia. Beatriz
tinha outro, ou melhor, o outro era eu. Então acordei atônito de meu sonho
colorido, e lembrei das vezes, que a peguei cochichando ao celular, enquanto ia
ao banheiro. Repudiando-a pedi que fosse embora. E ela foi.
Voltei então
a cultivar uma barba espessa e tentar me conformar com a sua partida. Mas não
me conformava. Decidi então, que sairia ao seu encalço. Descobriria quem era o
seu amor e daria um jeito de estragar tudo. Revelando "a ele",
"o outro". O nosso affair. Não antes é claro, de escolher uma bela
faca de cozinha. A mais afiada e uma das maiores também.
"Apenas
por segurança", pensei comigo.
Apenas
por segurança...
Continua...
2 comentários:
como começar?
caro carta
- em tom de humor -
para tratar algo TÃO sério?
apresento pistola
digo, a presente epistola....
a verdade é que tenho
me tornado
neo-sanista.
O q dizer: S2? ;P
Winston Smith
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