Sigo sentado, com medo de
caminhar. Os meus pés não têm a devida estabilidade no chão.
Falta equilíbrio que sobe
as pernas e se perdem.
Vejo as notícias na tevê,
ouço o rádio sem saber qual é mesmo o dia da semana.
Saio do sofá para a cama,
da cadeira para a beira de alguma ponte.
Sinto dores na fonte de
água corrente e dormente na minha língua.
Os lábios voltando à
virgindade, nem gosto de bicarbonato.
Pensamentos desconexos,
enquanto me encanta o teu sexo e qualquer outro que me faça gozar.
Sempre há um aniversário
para ir, um drama para assistir, um viver para dormir.
Os corpos balançam e estou
me santificando no ébrio desconsolar da serpente.
Nádegas a declarar, sobre
tantas nádegas a balançar.
Flor, no teu cheiro ópio,
nas tuas pétalas sóbrio, me embebedo do teu sexo.
Vejo uma foto
incomunicável na glória dos teus passos e os meus que me levam para o outro
lado. Eu corro em minhas tripas e de tantas dores esquisitas que eu já nem sei
se está se retorcendo aqui comigo também.
A erva que o diabo
cultivou sobre um nome de anjo ele plantou esperando a curiosa condição humana
espalhar as sementes que ele não criou.
O útero em blues não sabe
o que vem depois da luz pode ser apenas saudade piedosa.
Eu gritaria se pudesse, eu
seria você se quisesse. Mas você só pensa em prosperar, enquanto eu ouso penar.
Na covarde persistência de manter-me existente.
Saudade no sal dos olhos,
no rosto que começa a desmoronar com as mentiras que eu invento. Nem sinto
mais fome, porque nunca estou satisfeito. Não!
Vejo a luz do refrigerador
tentar esquentar o que se fez congelado. E os dedos todos marcados,
queimados, refrigerados, sem palmas. Sem palmas.
Instrumentos, na boca um adendo e rimas que lembram sofrimento.
Nada quero dizer, quando
me calo em línguas estranhas. Sem pronunciar. Sem falar o teu nome.
Sinto que o prazer está em
sentir, em ser uma nova ironia.
Fotos do seu rosto lindo,
seu amigo Arlindo que quer viajar comigo.
Maldito burguês! Saia do
meio da rua pois eu posso querer passar.
Cabelo ao vento nem tirou
o documento do automóvel ganho sem discernimento.
Trás mais uma cerveja para
o rebento, talvez traga sentido ao piercing de umbigo da gostosa ao seu lado.
Cresce ansiedade, vai e
desce, telefone que não toca. Mosquito, muriçoca.
Vejo o preço absurdo, mas
eu quero ver o crepúsculo e renovar a esperança.
Grama úmida, molhando a
bunda e o soldado quer que eu me levante, quer que eu leia Dante e seja
dependente de Deus.
Praça colorida (ai que dor
de barriga). Jesus Cristo tatuado na outra mão um baseado.
Eu sorrio e não recebo
resposta nem do brigadiano fedendo a bosta, deve ser de suas botas. Coturno,
contudo, não tem cheiro de nada.
Domingão enuviado, não é
animal, nem homo sapiens, hétero "tardis".
Me alcança a salada.
A minha é a de batatas, a da minha prima é a de couve.
Melancolia no abraço da
velha tia, no meu rosto de nostalgia, alegria partida.
Coração de favelado, sem
viver a realidade do futebol sem resultado.
Subo no palco, e mostro o
fundilho das calças. Rio na calçada, e roubo a namorada do mendigo
"cabrocheiro".
Limpo as lágrimas e o
palhaço já não tão triste voa para outro guarda-roupa.
Chega a noite bela e
açucarada ninfa descarada sem véu no rosto.
Bêbado desmantelado,
outros molhados na chuva que pariu da lua descabaçada.
Beijo escondido o manto
das folhas, o céu, o umbigo, as tralhas das ruas.
Danço como a noite mais um
turista espiando embaixo da saia algo melhor do que a vista.
Subo no altar da carência
e arrasto a culpa na vergonha e a vergonha escondo com as mãos.
Seguro a hóstia em concha
as partes em borboleta, nos lábios toda a rima suja.
Profetizo o gozo
esquecido, vou do ostracismo ao desconhecido.
Dó em órgão, dó do órgão
enquanto os anjos cantam, dançam e festejam.
Do vinho às cochas.
Duvido!
Psico delicia, transmuta,
batendo, vibrando. Gemendo, barulho, bagulho, centeio.
Chega a propaganda, a
lembrança desmembrada. Cores, pastéis, dias cruéis, piano.
Ápice, cigarro, cinza,
apagado, esquecido, tão lindas e agudas, as doces manhãs.
Acabou, nunca é forte
demais, nunca mais, será capaz. Aaaahhh!!!
Deixa muda. Deixa muda.
---
---
Experiência psico
contextual auditiva e individual, sobre o disco: "A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado" (Os
Mutantes) - Ano: 1970
4 comentários:
A verve psicodélica, louca e psicotrópica... do poeta mirabolante, doidivanas, maníaco... Sannio Carta!
Evoé mestre!
Tommy Wine&Beer.
rs...
Dizem por aí... que estreará um novo colunista, vindo de Tapes, apadrinhado do rei Carta!!
mais uma mente perturbada saida do moco.
Postar um comentário