quarta-feira, 17 de julho de 2013

Em Que Buraco Se Enfiou Andrea Thomas? (Sannio Carta)




PARTE 2
Fiquei com a pulga atrás da orelha, depois da minha conversa com o Chinaski.

Mas "o homem deu nome a todos os animais"[1]

Apontou todo jogador, bacharel e prostituta que conhecia Andrea Thomas na cidade.

E eu sabia de algo que Chinaski não sabia. 

O nome da amante secreta de Andrea. Lucille. Uma advogada porta de cadeia, sugadora de lingeries. 

Gostosa como um x-bacon com cerveja gelada em uma sexta-feira à noite.

Teoricamente eu não teria de fazer o serviço, mas como eu já estava a um passo de roubar as moedas que atiram para os vagabundos. Resolvi colocar meus mocassins surrados de volta às ruas. E ir atrás da puta.

Chegando ao apartamento de Lucille encontrei a porta semi-aberta.

Havia um cheiro de sexo, mofo e sangria. De fato, encontrei as duas piranhas deitadas na cama. 

E na parede, um ultraje lesbofóbico: "Vagabundas lésbicas".

Cara, por essa eu não esperava. Procurei luvas em meu bolso, para tentar esconder minhas digitais dali.

Felizmente, Billy lembrou-se de colocar luvas descartáveis em um dos bolsos do casaco.

Merda! Quem eu estou enganando. Vou ligar logo para a polícia, assaltar a geladeira e esperar "os canas" chegarem.

Enquanto isso, a parede ameaça cair com os solavancos que o casal ao lado produz.

Soco a parede em respostas ao barulho. 

Passado alguns minutos adentra apartamento afora um cara pelado com um "cigarrinho de artista" nos lábios. Era Cassady[2].

- Cara, já soltaram você? -ele disse, abrindo aquele maldito sorriso maníaco.

Anos antes havia, cumprido uma pequena pena com Cassady. 

Estelionato. "Pfff"... Como se eu precisasse mentir para roubar.

Cassady cumpria por assalto. Na cela tinha também um caipira, um advogado bêbado. Um tal de George Hanson.

Ele, o George que livrou nossos rabos daquela vez. Anos depois, soube que foi morto por outros caipiras, em algum lugar "entre a puta que pariu e o cu do mundo".

Pobre George.

- Ei cara, o que aconteceu com as gatas? - visivelmente espantado, Cassady me arranca abruptamente de minhas memórias fragmentadas.

- Ainda não sei, Cassady... - levanto-me para cumprimentá-lo (eu queria um aperto de mãos, ele preferiu um abraço).

Nisso, chega a polícia.

Puta que pariu.




[1] Ao que tudo indica uma espécie de trocadilho insannio da canção “Man Gave Names To All The Animals”, canção de Bob Dylan
[2] Neal Cassady. Beatnik. Imortalizado como Dean Moriarty em On The Road. A versão cinematográfica impressionou Sannio pra caralho, teria inclusive feito as pazes com Selma à época em virtude do filme.

2 comentários:

Agentes da L.O.U.C.A disse...

1. “Teoricamente eu não teria de fazer o serviço, mas como eu já estava a um passo de roubar as moedas que atiram para os vagabundos. Resolvi colocar meus mocassins surrados de volta às ruas. E ir atrás da puta.”

Esse parágrafo ficou massa!

2. Achei que tu tinha dançado quando li essa parte a primeira vez, pq. cheguei a pensar que ficaria melhor "Dean Moriarty" do que Cassady, mas eles se confundem mesmo são praticamente a mesma pessoa! Ponto pra vc!

3. E a imagem?, lembra uma vez em que tomávamos vinho na rua e vc me contava que assistira barfly, daí me referi a esta cena man!?: Fay, Rourke e o próprio Buk!!!

3. E o desfecho do capítulo ficou maneiro, também é um convite a avançar a parte final antes de ir mijar cerveja com o pau bebedo no toalete da lanhouse.

Tommy

Sannio Carta disse...

A imagem é maravilhosa realmente. O texto... O safado Buk aparece rapidamente em uma das cenas também.
Adorável! Tal qual uma bêbada pagando um boquete em uma rua escura.