PARTE 2
Fiquei com a pulga atrás da orelha, depois da minha
conversa com o Chinaski.
Mas "o homem deu nome a todos os animais"[1].
Apontou todo jogador, bacharel e prostituta que
conhecia Andrea Thomas na cidade.
E eu sabia de algo que Chinaski não sabia.
O nome da amante secreta de Andrea. Lucille. Uma
advogada porta de cadeia, sugadora de lingeries.
Gostosa como um x-bacon com cerveja gelada em uma
sexta-feira à noite.
Teoricamente eu não teria de fazer o serviço, mas
como eu já estava a um passo de roubar as moedas que atiram para os vagabundos.
Resolvi colocar meus mocassins surrados de volta às ruas. E ir atrás da puta.
Chegando ao apartamento de Lucille encontrei a
porta semi-aberta.
Havia um cheiro de sexo, mofo e sangria. De fato,
encontrei as duas piranhas deitadas na cama.
E na parede, um ultraje lesbofóbico:
"Vagabundas lésbicas".
Cara, por essa eu não esperava. Procurei luvas em
meu bolso, para tentar esconder minhas digitais dali.
Felizmente, Billy lembrou-se de colocar luvas
descartáveis em um dos bolsos do casaco.
Merda! Quem eu estou enganando. Vou ligar logo para
a polícia, assaltar a geladeira e esperar "os canas" chegarem.
Enquanto isso, a parede ameaça cair com os
solavancos que o casal ao lado produz.
Soco a parede em respostas ao barulho.
Passado alguns minutos adentra apartamento afora um
cara pelado com um "cigarrinho de artista" nos lábios. Era Cassady[2].
- Cara, já soltaram você? -ele disse, abrindo
aquele maldito sorriso maníaco.
Anos antes havia, cumprido uma pequena pena com
Cassady.
Estelionato. "Pfff"... Como se eu
precisasse mentir para roubar.
Cassady cumpria por assalto. Na cela tinha também
um caipira, um advogado bêbado. Um tal de George Hanson.
Ele, o George que livrou nossos rabos daquela vez.
Anos depois, soube que foi morto por outros caipiras, em algum lugar
"entre a puta que pariu e o cu do mundo".
Pobre George.
- Ei cara, o que aconteceu com as gatas? -
visivelmente espantado, Cassady me arranca abruptamente de minhas memórias
fragmentadas.
- Ainda não sei, Cassady... - levanto-me para cumprimentá-lo
(eu queria um aperto de mãos, ele preferiu um abraço).
Nisso, chega a polícia.
Puta que pariu.
[1] Ao que tudo indica uma espécie de
trocadilho insannio da canção “Man
Gave Names To All The Animals”, canção de Bob Dylan
[2]
Neal Cassady. Beatnik. Imortalizado
como Dean Moriarty em On The Road. A versão cinematográfica impressionou Sannio
pra caralho, teria inclusive feito as pazes com Selma à época em virtude do
filme.
2 comentários:
1. “Teoricamente eu não teria de fazer o serviço, mas como eu já estava a um passo de roubar as moedas que atiram para os vagabundos. Resolvi colocar meus mocassins surrados de volta às ruas. E ir atrás da puta.”
Esse parágrafo ficou massa!
2. Achei que tu tinha dançado quando li essa parte a primeira vez, pq. cheguei a pensar que ficaria melhor "Dean Moriarty" do que Cassady, mas eles se confundem mesmo são praticamente a mesma pessoa! Ponto pra vc!
3. E a imagem?, lembra uma vez em que tomávamos vinho na rua e vc me contava que assistira barfly, daí me referi a esta cena man!?: Fay, Rourke e o próprio Buk!!!
3. E o desfecho do capítulo ficou maneiro, também é um convite a avançar a parte final antes de ir mijar cerveja com o pau bebedo no toalete da lanhouse.
Tommy
A imagem é maravilhosa realmente. O texto... O safado Buk aparece rapidamente em uma das cenas também.
Adorável! Tal qual uma bêbada pagando um boquete em uma rua escura.
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