segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Chá Com As Raposas (por Felipe Mutley)






“Da aspirina ao benflogin. Da cannabis ao crack. Da cerveja ao vermute. Para que viver a vida em plenitude” ("releitura" em cima de trecho de texto de Sannio Carta) Tommy Wine & Beer
 

Na madrugada fria de sábado eu chorava e corria contra o vento cortante. Os cães mordiam as grades, furiosos ao notar minha figura, tão a feita a uma vida furtiva e discreta, movimentar-se sem nenhum receio ou discrição.

A girafa me beija a testa, o palhaço ri alegre, o saci me dá uma rasteira, a polícia me para, o teatro se fecha e fico sozinho, com um oficial que me esfrega uma intimação na cara.  Terei de pintar as grades das casas, que foram arranhadas pelos cães danados, depois levá-los ao dentista por ter estragado seus caninos medonhos.

Comendo bolinho de polvilho, na manhã cinza de domingo, escuto fatos corais que pingam na janela. Convenço-me de que são invenções dos pardais, que acreditam que tem poder para parar a chuva. Faço-os cantarem animada tarantela como homenagem ao deus Sol. Danço com as raposas que se desentocam do quintal da minha vizinha. Felicidade contamina o sol, que desce para pular conosco. A vaca caga e os pardais comem as moscas da bosta, depois os cogumelos brotam.    

Despedaço uma bolacha no cogumelo e faço uma paçoca com cachaça. Na parada da saudade, esperando a carroça que me levará às docas do inferno, avisto Caronte, que já não está cadavérico, ao contrário, cada vez mais elegante, com ouros e capangas nos tribunais do céu. Entrego-lhe minhas poesias, e desenhos, e música, e suor inútil, que já não valem nem do lado de cá nem do de lá.

Darei um mergulho com a diaba mais astuta, a primeira concubina do capeta, aquela que possui as palavras que enganam a todos, menos a mim, que só me engano com minhas próprias.

Um mergulho no fogo com pimenta; entrego-lhe a paçoca, que ela chama de porra do cavalo velho. Distorções, imagens falhadas, sensações emergentes, ensimesmamento dentro do não-eu. Ela me faz comer uma salada de branquilho com mata-cavalo. Fuga total da realidade, busca voraz pela verdade da terrível fenda que nos abocanha e ilumina a complexidade indecente do passado novo.

Acordo dentro da Valquíria rosa; nado nas suas ancas macias, arrasto-me feito sarna sob sua pele lisa. Vago contemplativo por seu sistema reprodutor ineficaz, devaneando com possibilidades simples, felizes e quentes. Ela tem um pesadelo com demônios que transam em camas de hospital, e sou expelido com suas lágrimas levando comigo sua capacidade de enganar a si mesma.

Derreto por seus olhos faiscantes, e ela volta a dormir seu sono tranqüilo. Perambulo por ecos de prédios vazios. A cidade sente que algo em mim mudou. As pessoas não me olham hostilmente: atiram pedras nos cavalos que bebem no esgoto do céu.

A concubina do capeta acorda nervosa, diz que precisa casar e se emendar na vida. Acalento-lhe o coração, relembrando que ela está muito bem casada, de acordo com as escrituras sagradas dos instintos humanos. Devolvo-lhe o copo com alucinógeno, que ela quebra contra seus arrependimentos momentâneos. Ela me beija, e deitamo-nos sobre o asfalto, cometendo adultério eterno.  

8 comentários:

Sannio Carta disse...

Melhor título do mundo! Assim como a Bernadete de Tapes é a melhor banda de todos os tempos! Viva o comunismo!

Anônimo disse...

palhaçada! esse Mutley é avatar do Sannio!!!

Sannio Carta disse...

Hahaha...
É meu primo distante! ^ ^

Anônimo disse...

Mutley é o "aspira" da tropa mas quem pede pra sair é o Sannio CARTA!

Top 10 esse mês vai ser acirrado!

Quem ganha são os leitores. (outra boa piada)

Falando em primo a nova coluna de WoodyGus já chegou na redação, essa semana publico também.

É o RENASCIMENTO DA LOUCA! Com a volta de Hell, Pico, Gus, a entrada de Mutley, falta só o Screeth deixar de ser veado e voltar a escrever...

E dizem que vem mais gente por aí...

Tommy Wine & Beer - Editor e eventual colunista

Anônimo disse...

(x) uma bosta

Sannio Carta disse...

O único "adultério eterno" ,parafraseando a Sir Mutley, que o dito anônimo deve ter cometido. Deve ter sido com as próprias mãos. Ou esbanjou ironia.

Anônimo disse...

Os leitores andam atrevidos! Falem mal mas falem da gente. é o que penso.

Wine & Beer.

Sannio Carta disse...

Çerto!

Aqui pra eles:

http://www.youtube.com/watch?v=FjoSsOyuD-g

E digo mais:
http://www.youtube.com/watch?v=PWyLLktTbDw