sábado, 10 de agosto de 2013

PESADELO NO BAMBU'S (por Tommy Wine & Beer)

 
 
 
I


Saí do meu trabalho onde suo como um hamster numa roda idiota por moedas e sem assinatura no gibizinho. É fim de uma tarde de verão. Eu estava um caco física e espiritualmente. Um tanto quanto cansado do “circuito escritório-Cidade Baixa-Pensão”.

 

Subi a lomba da Ramiro suspirando tédio, desolação e DOR: meu crânio,  minha batata da perna (com uma variz horrenda) e minha virilha (com um estranho e amedrontador caroço que parecia a eclosão de um terceiro bago) DOIAM.

A sensação terrível de que a vida era vagabunda demais às vezes dominava meu espírito. Dias sucedendo dias de lances iguais. E poa?, será que não tinha mais nada pra me oferecer? Cidade desgraçada me mande um pouco de emoção sua puta!

II

Dobrei pra Avenida “Indie” e meu humor começou a melhorar. Gostava de chamá-la assim. A Independência! Gostava daquele pessoal dali, embora houvesse não exatamente um abismo a nos separar, e sim catracas, cartões de crédito e boas bebidas. Mas é um povo bonito: belas roupas, belas barbas, belos cortes de cabelo, belas garotas. Não que eles estivessem aos montões ali num final de tarde de quinta. À noite talvez. Aí se aglomerariam em uma festa classuda no Beco.

À favor da ladeira segui marchando. Tentando ouvir alguma notícia relevante sobre futebol no rádio. Distraído me vi em frente ao BAMBU'S. Um verdadeiro santuário da alternatividade local. “E por que não tomar um trago ali?”, foi o que pensei. Estava às moscas é verdade. Tranquilo. Entrei e pedi uma dose de vodka e uma Kaiser.

III

Eu tava sereno sorvendo aquele suco de milho com álcool e tomando o meu veneno no instante em que entraram três caras de suspensórios no bar. Pareciam aquilo que chamam de cosplay. Fantasiados de alguma coisa do imaginário pop que eu e minha ignorância não conseguimos decodificar. Dos personagens do filme Laranja Mecânica talvez..

Os garotões e suas carecas lustrosas passaram pela minha MESA e sentaram-se ao fundo. Eu não devia encará-los e nem queria, sou pacifista ou covarde. Não sei bem. O bode é que eu tenho déficit de atenção. Uma inconveniente SUPER-ATENÇÃO. E aquilo que sempre me fodeu na escola agora ia me foder A VALER NA VIDA. Comecei a ouvir o que diziam. Era uma baboseira nazi. Encarei-os. Não podia evitar. Notei que um era alto e magro como uma vara de saltar, rosto fino e quase imberbe. O outro mais balofo, com bons bíceps e uma cara de brado. Por fim, o terceiro parecia ser o líder era um trintão como eu, dentes amarelados, sinais de expressão já bem cavados no rosto rude.

Pedi mais uma cerveja litrão e uma dose dupla de vodka que tomei de gute, em três tempos, num VIRA FORMIDÁVEL. Estava ficando BÊBADO. E bêbado eu fico corajoso! TEMERARIAMENTE CORAJOSO, registre-se.

Um dos caras foi até a rua e voltou, parou no caixa, pediu outra coca e quando passou pela minha mesa empurrou-a e disse:

“BOA-TARDE SENHOR!”

Se eu estivesse sóbrio, teria ficado nervoso. Com o cú que não entrava um palito de dente. Mas o álcool tinha me dado ENERGIA, VIGOR, AUTOCONFIANÇA e LOUCURA. Daí respondi:

“Bom dia filho.”

Depois gritei ao barman, “Ei manda TRÊS NOVA SCHIN AQUI, por favor! Sabe man, me deu uma vontade de derrubar TRÊS skin!”

O rapaz negro me trouxe minhas três cervejas. Sentei no balcão do bar. Vi os três garotões se levantaram vir em minha direção.

Pensei “que porra, ora eu podia estar batendo um papo aqui com o Júpter Maçã ou a Cláudia Tajes, mas não. Tinha era que ser aborrecido por estes tipos estranhos”.

IV

 O dono do bar, um cara que vive com um cigarro na boca, um dentuço e barrigudo que não sei o nome, percebeu a ofensiva dos caras em minha direção com sangue nos olhos bradou: “Não quero confusão aqui vão beber suas merdas de bebida lá na rua que vou chamar a polícia!”

Um dos nazi disse, “vamos, vamos para a rua, conversamos com este senhor na rua depois”.

Pegaram suas cocas e se foram.

Segui tomando minhas cevas. Caiu à noite, fui ficando de porre e resolvi ir embora. Enquanto aguardava na fila do caixa, abri minha pasta e tirei uma garrafa de vinho e comecei a beber.

Tomei as ruas. Optei por mijar naquela praça do colégio. E logo me deparei com meus opositores: os rapazes do Laranja empunhando clichezísticos tacos de baseball! Ah mas não é justo, Daniel Galera não precisa passar por isso!

V

Guardei meu pequeno caralho rapidamente. Senti os pingos de urina descendo pelas pernas.

“Vocês estão fritos seus trouxas”, gritei enquanto batia com minha garrafa de PLÁSTICO pateticamente contra um banco, achando que construiria uma amedrontadora arma cortante instantânea. A garrafa só ficou amassada e o vinho jorrou em meu braço. Eu ia dançar feio.

"Agora vocês vão conhecer uma máquina que mata fascistas!" Olhei para minha mão e a idiota da garrafa de plástico estava ali. Um buque de flores talvez produzisse um maior efeito psíquico contra os skin do que aquela garrafa.

“Esse cara é louco, ouvi um dizer. Vamos dar uma lição nele agora!” E vieram pra cima as ganha!

E ali estava eu, tentando combater golpes de taco com socos. As primeiras 5 pauladas no braço doeram pra caramba. Depois não sentia mais nada. Fui ficando cansado. Só pensava em não ter dentes quebrados. Embora eles estivessem ruins e amarelos como de um pangaré ordinário, ficar sem eles ia ser uma barra e tanto.

Tomei uma estocada no estomâgo e senti uma terrível falta de ar. Pronto, agora eu ia DANÇAR DEFINITIVAMENTE. Ia levar uma boa paulada nas guampas e cair e eles iam me transformar em strogonoff.

Dito e feito. Tomei uma! Senti o sangue escorrer no rosto e cair na minha boca. Não era de todo mal é verdade. Tinha um gosto de ferro e vinho.

Ainda me ocorreu o seguinte pensamento: eu seria manchete do jornal do almoço e a Ranzolin diria “Ângelo Gubert Tomiello, advogado foi assassinado...” e nem mencionaria que eu era ESCRITOR E JOGADOR DE BASQUETE!  

VI

Só que subitamente surge um grupo de rapazes negros do nada na cena. Um dos caras falou: " O que são afinal esses branquinhos fantasiados batendo no velho bêbado?” e olhou para um rapaz negro de óculos fundo-de-garrafa e perguntou, “diz aí Computador que porra é essa?”

Computador falou: “Esses caras são neonazistas, eles pensam pertencer a uma raça superior. Não gostam de negros, nem gays, nem judeus e nem ciganos e latinos...”

“Porra, e eles tão batendo nesse véio pq?”

Se dirigiu a mim e disse:

“Aì tiozão tu não é preto to vendo, tu é veado?”

“Sou gay em espírito, um White-negro, um latrino latino...”, isso foi a melhor tirada que consegui espremer da situação.

"Mas esses caras então pensam que são mais que os outros é!"

Eu disse, “é, por isso estou dando esta lição neles”!

Todos riram.

Gostei desse tiozão aí. Vamos dar uma lição nesses playboys de merda.

Um novo conflito começou. Agora eram os caras do bonde contra os nazi. Juntei minha garrafa do chão e dei uma golada. De repente um dos rapazes negro sacou um canela seca da cintura e atingiu os joelhos dos caras, eles caíram gemendo feito putas.

Eaí tio como é que ta o senhor?

To bem, querem um gole rapazes? Olha, vocês deveriam se chamar os bala no joelho!

“Boa!”, todos assentiram.

Daí os caras beberam meu vinho amalgamado com sangue.

“Embora dá um rolê nos inferninhos tio toma uma gelada, pega umas mina e dança um funk?”

“Bora”, falei. “Vocês vão conhecer O Maior Dançarino Negro de Todo Centro e Cidade Baixa!”

Os manos se mijaram de tanto rir.

Porto Alegre tinha enfim me mandado uma boa aventura. Eu ainda tinha 30 pila na pasta e esta história por escrever.

 

Caminhei em direção ao centro com os "Balas no Joelho", agora voltava tudo ao normal. O prefeito continuava comendo na mão dos empresários do transporte público. As palmeiras continuavam sendo umas árvores estúpidas que sequer tinham cocos. O padrasto abusaria da enteada de cinco anos na Bonja ou na Bela Vista. Sem contar a pornografia dos infindáveis modelos de péssimos e horríveis carros novos, levando as pessoas de um lugar medíocre para outro ainda mais cretino.

 

4 comentários:

Sannio Carta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sannio Carta disse...

Resolvi ler. Por isso, se tiver só um "massa", é meu. Tem mais de se fuder mesmo Sr. Wine Beer, sempre o convido a ir até o Bambu's. E o Sr. resolve ir sozinho!Hahaha...
Curti.
Breve correção. Skinheads originais, ouvem ska e reggae. A alusão da cerveja, não cabe a todos(nem a ninguém de fato.
Vídeos explicativos:

http://www.youtube.com/watch?v=KKyWgr3t3K0

http://www.youtube.com/watch?v=0kM8asmaTQw

E ainda foi nos inferninhos sem a minha presença. Rei das gafes em Agosto! Imperdoável! :P

Carta

Sannio Carta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Agentes da L.O.U.C.A disse...

Quando escrevi tinha bebido umas e outras e a história ficou cheia de erros. Agora dei uma arrumada. E o pior é que ela é livremente inspirada em fatos reais.

Tommy W&B