sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

"Le Joli - Muito Além da Cidade dos Cavalos" (Sannio Carta)



Uma cidade quase esquecida pela metrópole. Não fosse, vez ou outra, ressuscitada pelas páginas policiais, demonstrando a ineficácia de sua frágil e prosaica segurança.
E agora, recentemente, exposta em trajes menores, pelo fato confirmado e consumado, de suas praias não serem balneáveis (Alguma surpresa?).
Logo tu, que já estiveste enamorada da Lagoa (laguna). Agora, só recebes dela, alguns parcos olhares de desaprovação.
Sobes em teu palco grande de cimento, com vista para a sede demagógica de promessas furadas. E acinzentas, incompetentemente a tua falta de festas, tua colaboração indigesta com a cruz rubra de teus escândalos. Tuas traições e tuas loucuras que tanto me causaram paúra.
Abrigas em teu palco, também, teus novos mendigos. Algum jovem iludido que inocentemente, sonhou contar contigo.
Seria um abuso, daqueles que Maria abomina. Faltar, mesmo que seja, uma linha sequer, com as tuas verdades. Sim. Seria um abuso horrendo. Destes que ocorrem próximos aos arroios. E que por força municipalista, são abafados em troca de suborno. Mas, paciência. Imitas em muito ao resto corrupto do teu pobre e rico país.
É de revoltar o estômago, tal qual balneário sem esgoto sanitário. Miserável vila, trás da água, seu sustento. Vejam só a ironia. É a pura verdade. Não aumento.
Chinelos arrastados na madrugada, jantares de adolescentes com velhos adictos de viagra. E a areia branca invadindo os lares. A branca e o pó. Famosa areia usurpada. Rói aos poucos, a tua calçada.
Não obstante, prego-me às crendices das esmagadoras massas populares e suas afirmações ululantes. Tal como essa: "Onde há fumaça, há fogo".
E corro, das tuas ruas desertas, muitas delas, sem asfalto. Depois da tua esquina, só falsos quadrados, em teus buracos.
Ainda que duvidem da minha honestidade, não teria tamanha leviandade para levantar tantas injúrias calamitosas. Lembrando aos desavisados da liberdade expressa, que esta, em seu âmago, é só mais outra obra de ficção literária.
Não me leiam. Não alceiem sair de suas confortáveis mentes acostumadas a letargia.
Não me creiam. Joguem-me ao ostracismo de seus covardes. Julguem-me inapto, demente, ou até mesmo carente.
Prefiro que acreditem nas palavras dos homens acostumados às letras, também às tardes na biblioteca, infestada de ácaros e copos de plástico amassados.
E se quiserem, realmente, conhecer o chão por onde pisam. Façam como um velhaco e aristotélico, professor desta suposta fictícia cidade.
Esvazie os ouvidos das palavras sinuosas que vos entope e sinceramente, consigo mesmo:
"- Pergunte ao silêncio."