sexta-feira, 8 de julho de 2011

Uma Canção de Amor para Camus (Uéslei Screeth)









" A filosofia, ou melhor, o 'filosofear' e a morte, também, eis aí duas categorias deveras democráticas! Oh, pena não se poder dizer o mesmo do sexo e das bebidas!" (Tommy Wine Beer)







O que é humano é limitado, mas o que temos para acreditar que há algo além disso? Não temos para negar, mas também não temos nada concreto para acreditar. Fora disso o que há é esperança, e esperança é uma coisa humana, promessa dita ou subentendida, é a manifestação de um desejo acima de tudo. Desejo acima disso que nos põe desnorteados no mundo sem nos dizer por que nem para que, desejo de que tudo se esclareça. Não temos os instrumentos para responder, mas temos um espírito inflamado para perguntar. Temos pressa, a única prova da experiência é de que vamos morrer. Queremos muito viver. Aprendemos isso (o corpo sabe disso) antes de apreender a pensar. O primeiro impulso é viver, permanecer vivo, independentemente do porquê. O corpo diz "viver", e faz o que pode para isso. É o Espírito que pergunta "viver para que?" ou "o que é viver?". E pode se alucinar com o desespero e desistir da vida, ou se desvairar com a esperança e viver para além da vida, abdicando da própria vida única que efetivamente conhecemos.
 
 
Absurdo: Viver? Viver pelo prazer? Viver sem evocar o passado nem esperar o futuro, viver a única vida do presente contínuo. Viver ciente da dúvida e da morte, e, apesar de tudo, procurar o prazer? Quer dizer, esquecer o porquê e o para quê, aquilo sobre que não temos de onde tirar resposta. Penetrar apaixonadamente então em tudo que é dos nossos próprios limites, a condição humana em si. É o mesmo que dizer na aventura humana e nas paixões humanas, pois isto é completamente humano e nada mais que humano. Essa é a revolta absoluta contra a divindade que não é deus nenhum por não ser nada mais do que aquele "eu não sei". É o "eu não ligo". Mais não é o "não me importo", é o "não me interessa aquilo que não posso saber", é abdicação do que desconheço, e ao mesmo tempo empatia para com aquilo que, embora não seja eu mesmo, é da minha mesma natureza: a mulher que precisa vender corpo, o indivíduo que vive nas marquises por vergonha de voltar pra casa ....

Um comentário:

Anônimo disse...

Screeth e leitores:

Ah, o editor deste veículo da imprensa alternativa encontra-se digamos preso, cativo, mais ou menos como o Assang, e sem possibiliadade de dedicar algum tempo a casa.

Numa tentativa de fuga, lancei esse texto e foi o que deu pra fazer.

o título e a imagem sao de minha autoria, por óbvio, a epígrafe tb. Desculpas a todos em especial ao colunista!

Depois do exame da OAB, voltaremos!

ass: Tommy Wine Beer.