domingo, 1 de março de 2009

O BASQUETE É O MEU CIGARRO (por Tommy Wine Beer)


“A solidão é o meu cigarro” Zeca Baleiro



Desde muito cedo aquele objeto esférico exerceu grande influência sobre mim. Não interessava se sua constituição era couro animal, borracha, plástico, isopor ou meias-calça femininas. Meu fascínio por bolas era monumental! Às vezes a pelota só era esférica no meu juízo, uma vez que “ontologicamente” trata-se de uma garrafa ou lata de refrigerante.



Meus avós maternos moravam num sobrado velho, há uma quadra da orla do Guaíba, em Ipanema, e lá havia um pátio bem grande perfeito pra jogar bola! Só que tanto o Pablo, como o Sutiã ou o Cremogema não eram tão fominhas como eu que tinha a obsessão de jogar o dia inteiro até noite. E jogar futebol sozinho não era a coisa mais emocionante do mundo! Então eu ficava muito entediado, depois de fazer algumas séries de embaixadas ou de chutar a bola contra o muro por 10 minutos.



Lá por 1990 houve um natal entre tantos natais mágicos de minha infância que determinou muito do curso de minha vida. Lembro bem que na véspera da celebração cristã meu tio Marcelo veio jogando um “verde” comigo de que ele havia visto numa loja de esportes uma tabela de basquete pra vender e disse que seria bem bacana ter uma lá na casa da vó, querendo saber minha opinião a respeito daquilo ... não devo ter ficado tão empolgado na hora, mas achei legal a idéia.



Então na noite de natal eu recebi os presentes mais marcantes da minha vida: uma bola de basquete de couro de marca G12 e uma tabela KIT SPORT! No dia seguinte meu engenhoso avô Luis Carlos construiu uma estrutura de madeira para prender a tabela junto a uma árvore que havia no terreno de sua casa. Ali começaram meus treinos intermináveis de arremessos enquanto a tabela resistiu, depois passei a treinar na Gráfica.



A Gráfica é uma praça pública com ares bem melancólicos onde a maioria dos frequentadores não se desloca até lá pra fazer exercícios e sim pra consumir drogas. Minha mãe a chamava de “antro de marginais”. Só que como as coisas não andavam muito bem lá em casa na década de 90, eu procura passar o maior tempo possível nessa praça fazendo meus arremessos. Algumas vezes com meus amigos e colegas de time, mas na maioria do tempo sozinho. Além disso o interesse do resto dos rapazes se resumia em participar de partidas de basquetebol, e muito pouco em treinar lances e fintas como eu fazia religiosamente. E como eram infernais e deprimentes os dias em que chovia, em que eu era obrigado a ficar em casa!



Chegava a treinar algo como 10 ou até 12 horas por dia num silêncio semi- enlouquecedor. Pensava em muitas coisas enquanto jogava. Como, por exemplo, na razão que levava as garotas do bairro não se interessarem por mim, um atleta que bebia Novo Milk, e sim por idiotas que brincavam de skate e fumavam.



Muitas águas rolaram de lá pra cá, adquiri sobrepeso considerável, mas ainda hoje pego uma bola e treino meus jump’s por aí com a mesma cara de doido e olhos melancólicos de frustração.


Um comentário:

Agentes da L.O.U.C.A disse...

Meias verdades hehehe!!
ass: Tommy.