sábado, 4 de junho de 2011

Notas Sobre Contracultura (Uéslei Screeth)






Inspirado pelas musas da garrafinha, pretendi escrever algumas linhas jocosas em relação ao termo contracultura. Isto em resposta à pressão do editor que, perdidos seus melhores cronistas, exaspera-se com a falta de publicações na L.O.U.C.A. Também porque tal noção impica no viés utópico deste blog. Não concluí o que iniciei, resolvi escrever algo mais sério desta vez.


A questão diz respeito à distância entre a Contracultura como movimento histórico recente e suas reminiscentes manifestações contemporâneas. Aquele fenômeno social desenrolado entre os anos 50 e 70, possivelmente propelido pelo existencialismo de Sartre, amadurecido pela literatura Beat, generalizado pelo movimento hippie, e derrocado com a insanidade punk, embora amalgamasse vertentes e vertigens das mais variadas espécies, seguia uma linha fundamental enquanto contestação ao stablishment. A órbita destas manifestações girava em torno da emancipação comportamental e os envolvidos, de maneira geral, possuíam alguma consciência política do sentido de suas atitudes.


A força resultante da massificação destes movimentos transformou o stabilishment sem, no entanto, conseguir derrota-lo. O paradoxal desfecho deste confronto cunhou o complicado modelo de liberdade mansa que vivenciamos hoje.


Como numa paz honrosa a cultura dominante ofereceu permeabilidade às atitudes rebeldes conforme estas perdiam sua radicalidade política e acomodavam-se em parâmetros estéticos e nos redutos da vida privada, desmassificando-se. As liberdades individuais se afirmaram e as contraculturas conquistaram posição no panteão ideológico ocidental. Este, por sua vez, mesmo perdendo em homogeneidade, salvaguardou sua essência através da frutificação da sociedade de consumo, favorecida pela proliferação de nichos de mercado consequente às novas demandas dos novos grupos, desarticulados enquanto movimentos sociais e reformados em tribos urbanas.


Na década de 30 o samba necessitou se submeter a uma domesticação, desmarginalizou as letras para penetrar na radiodifusão que então se expandia. Hoje o funk carioca pode se apresentar de cara limpa e sem papas na língua. Independentemente da antipatia que conquistem, os comportamentos e expressões são tão livres quanto mais comercializáveis. Isto não significa nem abster conteúdo político, o selo Guevara é um mega sucesso mercadológico.

Quer dizer, portanto, que não importa quantos opositores uma manifestação albergue, o que interessa é quantos entusiastas se disponham a consumi-la. O casamento forçado entre os velhos interesses econômicos e as novas demandas emancipatórias deu luz a um mercado monstro que gradualmente abdica da imposição de padrões e concomitantemente capacita-se a absorver e manejar os que eclodem a revelia de sua iniciativa. Uma vez digeridos, explora ao limite seu potencial econômico.


O novo stablishment não reconhece inimigos, deseja abraçar tudo que cresça o bastante para chamar sua atenção. O que presenciamos é um sistema hermético que se retroalimenta com suas próprias erupções. Programáticas ideologicamente autonomistas esbarram na adversidade de necessitar surgir e popularizar, ou seja, massificar, sem sucumbir ao fetichismo sedutor deste mecanismo capaz de transformar densas filosofias em indeléveis drops de sabedoria. Inclusive a internet, ferramenta potencial da livre divulgação intelectual por habilitar qualquer indivíduo a ser e acessar mídia, estaciona perante a insuperável primazia instintiva do entretenimento em detrimento da conscientização.


As ações contraculturais remanescentes se dissipam em manobras quixotescas de perseguição à uma abstração que circula sutilmente por todos os espaços como uma nuvem de gás cuja natureza é a própria permutação. Acontece que antes a querela se dava contra um pensamento reacionário com posições fixadas. O problema com que nos deparamos agora é um regime mais afeito ao frenesi e à continuidade do movimento como máxima autossuficiente que á determinação de seu sentido.


Na verdade muitos elementos estão dispostos de forma confusa e o conservadorismo ainda está aí fazendo bastante barulho e legislando muito. Mas sua tangibilidade demonstra tanta debilidade que não custo a pensar que o próprio reacionarismo represente certa forma de contracultura às avessas naufragando em meio num mar turvo de ideias.

3 comentários:

Anônimo disse...

Uma flor no lixão! A LOUCA pra mim sempre foi uma cloaca de debilóides drogaditos iletrados, agora este Uéslei tem estilo, conteúdo, vocabulário! Vou parabenizar o blog pela contratação do seu PRIMEIRO articulista RESPEITÁVEL!

Anônimo disse...

Uma florzinha no meio de cáctos etílicos isso SIM! Que porra é essa? Agora a LOUCA anda se misturando com ACADÊMICOS?! Acadêmicos cheios de nove horas linguísticas, salamaleques intelectais, floreios estilísticos...! Demitam esse cara, ou o ensinem a escrever, diga pra esse cara desligar o lap top e ir pra rua aprender alguma coisa que preste, esse cara não diferencia pentelhos de uma xoxota de barba de milho!

Anônimo disse...

Eu gostei do texto.
Até curou minha insônia!
"Uma flor no lixão".
Tu deve ter lido isto,na entrada do "Chocolatão".
Aproveita,meu"respeitável" leitor.Pega o teu canudo da faculdade(ainda não recebido,suponho)e usa de seda pro teu baseado.Seu bunda suja!!

Ps:Voltei!!

Sannio Carta