quarta-feira, 11 de julho de 2012

I - BLOGUEIROS OTÁRIOS (Tommy Wine Beer)





Para Sannio Carta e o meu pivete também!


Acho que era 2009... Verão. Era uma noite mormacenta. Infernal MESMO em Porto Alegre. Eu tomava uma Heineken gelada e monumental como um iceberg. COMO SEMPRE no Élio. Enfim, a HORA PERFEITA!

Eu só tinha 3,50 pra gastar em bebida. O que tornava aquele rito belamente trágico: um homem precisa sistematicamente dirigir-se a um bar e beber uma única cerveja (de preferência da marca que mais aprecia), só assim ele entenderá o que é a vida e o que é ser um homem de verdade. Independentemente de possuir pênis ou vagina, é claro.

O que importava mesmo é a beleza daquela garrafa verde e o saboroso líquido de seu interior. Abri minha mochila, entre muitos escritos, havia uma cópia de e-mail, era de minha garota, Malia, uma linda intelectual negra de um bunda maravilhosa. E ela escrevia tão bem e era tão bela, que sorte eu tive de a conhecer num chat um pouco bobo e cretino.

O Cachorro Quente do Élio era o bar que vendia a Heineken, 600 ml, mais barata de poa, pelo menos até onde ia o meu conhecimento de botecos e bira. Só que tinha um probleminha: copos de plástico. Odiava aqueles copos. Assim eu tinha que beber direto na garrafa. O que não era nada mal. Então eu mamava aquela garrafona e o líquido descia pela minha garganta e o álcool chegava às minhas veias e cérebro como uma soda cáustica, que desce por um encanamento, desobstruindo e destruindo tudo que é merda e mandando as preocupações e problemas como dívidas e sintaxe, no mijo, rumo ao Guaíba podre.

Tinha uma TV no bar. E Três quartos de minha garrafa já tinham sido drenados. Eu assistia, distraidamente, uma cena da novela em que o Tony Ramos, e todos aqueles pelos, arretava a Mariana Ximenes, quando o Paulinho chegou.

O Paulinho, que gostava de ser chamado de Paul, era um blogueiro. Mais do que isso: ele era meu colega numa porra de blog que a gente tinha. Mais do que isso AINDA: eu era uma espécie de seu editor nesse blog.

Eu gostava do cara, apesar do seu temperamento pendular, ele sofria de uma espécie de dupla personalidadade, oscilando entre o machão predador despudorado de coração empedernido; e o poeta romântico solitário sôfrego incompreendido, uma verdadeira máquina de suspiros e interjeições melancólicas.

Paulinho, que também era desenhista e pintor, escrevia bastante a mão, e vinha com um monte de desenhos e textos pra me entregar.

Ele escrevia tão bem, ou tão mal quanto eu. Aí dependia do foco desse juízo. Entre nossos camaradas gozávamos da reputação de gênios; para o resto das pessoas não passávamos de idiotas non sense.

Eu tava me fodendo pras regras chatas e cheias de frescuras difícílimas da porra do português; agora o Paulinho era muito pior, ele era o verdadeiro punk do sistema linguístico, transgredindo tudo que é regra da língua seja ortográfica, gramatical... ou de qualquer porra de subdivisão de estudo do idioma. Ele nem sequer passava o seu texto no corretor ortográfico do Word. O que acabava dando mais trabalho pra mim, mas não importava. Eu até tinha tido uma ideia: de tirar uma foto com um sujeito defecando ou limpando o traseiro numa gramática pra colocar no blog. Só que o resto dos colunistas deliberou contrariamente. Ficou na vontade só. E nem ia ser tão difícil encontrar um demente pra servir de modelo praquela foto doida.

Então ele pediu uma Polar litrão, depois sentou. Apesar de ser tão pobretão quanto eu, ele andava sempre bem trajado: cabelo bem cortado, barba feita, jaqueta de couro, camisa social... neste aspecto, até que nós éramos bem parecidos (apesar de que as minhas roupas eram bem mais rotas), nos vestíamos com sobriedade, sem calças justas que parecem de borracha, que anda se usando, nada desse estilo indie, nem hippie-folk, nada de camisas pretas de rock, nem terninhos justinhos, nada dessa moda, nada contra, mas nada a favor, éramos trintões, e nos vestíamos como velhos cidadãos porto-alegrenses.

“E aí Litlle Paul!, como vai meu grande amigo e colega escritor urderground, antena da raça, cérebro de sonhos, aspirações, pensamentos e fodas por dar e repartir!” Assim cumprimentei-o num arroubo pseudo-beatnik, e, acho que, usando uma expressão de Ezra Pound. Também essa a única coisa que eu sabia sobre Pound, afora a citação de Bob Dylan em Desolation Row. Mas será que era Ezra mesmo? Não importava, eu nem sequer sabia se era um homem ou mulher. Talvez um gay.

Ele suspira PROFUNDAMENTE, levou o copo de cerveja até a boca, dando uma golada monstruosa, e dando uma entonação melancólica e dramática a sua voz suave diz:

“Mal Tony (ele me chamava de “Tony”, e não era por causa do ator, e sim pela razão do meu sobrenome: Toniollo, aliás, meu codinome no blog era “Tomas Vodka?”), já tive dias melhores, a minha alma é um pássaro louco e ferido, abatido por estilingues de desamor e ódio, que parece voar na contra-mão dos outros pássaros-corações... e cada poema que escrevo é com o meu sangue...

"Vai acabar precisando de uma transfusão!" Debochei.

Ele continuou: Oh!, estes poemas!! Estes poemas Tony, são adagas que vou engolfando em meu próprio coração...” De repente, uma garota boazuda, passa por nossa mesa, e sua fisionomia transmuta-se em absoluto: surgi um brilho em seus olhos, tira um cigarro do bolso, coloca-o de uma forma sensual na boca, formando um biquinho no canto direito, tira a jaqueta, abre um botão da camisa, dobra as mangas, exibindo os antebraços, e diz com uma voz rouca de fumante boêmio fdp:

“Porra, que gostosa! Que bunda! Que pernas! Que decote! Que boca! Só um instante Tony, vou convidá-la pra reuniãozinha de hoje! Já volto!” E se foi.

15 minutos depois, ele voltou.

“Que puta!, não aceitou o convite pra festinha. Tu vai direto daqui Tony?”

“Que festa?”

“Uma reunião, aqui na CB mesmo, de blogueiros.”

“ Acho que não vou não, tenho que acordar as 4 amanhã.”

“Que porra é essa de acordar tão cedo? Tá fazendo o telecurso?”

“Trampo cara. Ainda não me chutaram. Ainda to como entregador do Correio dos Bobos. O resumão da Hora Morta hehehehe...”

“Hehehehe... boa essa Tony... vou pedir outra ceva!”

O Paulinho era o único cara que achava graça nos meus ditos, achados. trocadilhos e aforismas sub-espirituosos. Como era generoso esse Paulinho. Fazíamos concessões mútuas. E nessa “punheta intelectual” íamos em frente, sonhando com o dia em que alguma coisa mudasse e que nossa escrita e seus desenhos e pinturas fossem reconhecidos. Por isso eu até o chamava de Paul. Que era o seu pseudônimo no “Sandynistas Jr.”, o nosso blog.

“Vamos então Tony?”

“Já falei que não posso...”

“Por nossa arte cara, pela Literatura... e por algumas bucetas!”

“Não dá cara... além do mais tem a Malia.”

“A Malia? Porra cara!, ela não é sua garota! Ela ta no outro lado de nem sei que porra de oceano! Na África! E deve ta fodendo com um africano, com um caralho do tamanho do meu antebraço!”

É meio embaraçoso pra eu falar nisso. É que eu tenho uma “namorada virtual”. Uma universitária angolana, que eu nunca sequer beijei e mora na Àfrica.

“Ela é minha garota Paul. E eu tenho um PACTO com ela.”

“Ora cara você tem um PACTO e um PAU! Não se esqueça disso: você tem um PAU! E um escritor não pode viver só de masturbação!”

“Não, não vou. É a minha ÚLTIMA palavra.”

Cinco litros de Polar depois eu havia MUDADO DE IDEIA, convencido a dar uma passada na festa. Bêbado, eu digerira facilmente a lavagem cerebral do Paulinho, ainda mais com aquele papo de “escritor”. Se uma mulher me chamasse de “estupendo amante” não teria me envaidecido tanto quanto alguém me chamar de “escritor”. Mesmo que fosse o Paulinho.

Lá íamos nós e nossas biras, DOIS leitores incipientes, metidos a ARTISTAS INCOMPREENDIDOS, pra uma celebração de blogueiros sem leitores. O que éramos afinal? Palhaços a procura de um picadeiro? Macacos em busca de um zoológico? Talvez.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, que saudade do Elio!!!!! Malditos sejam esses políticos imbecis que acabaram ou querem acabar com a verdadeira essencia da cidade baixa! Que se fodam o banheiro fétido e os copos de plastico... pelo menos tinha ceva barata e gelada. sempre!
Legal que voltaram a atualizar o blog!! Saudade de passar por aqui e ler os textos de vocês, ótimos!! beijos Rapha - (um dia eu começo)

Sannio Carta disse...

Bha!...

Ass:Paul.Eric
;D