quarta-feira, 11 de julho de 2012

II - BLOGUEIROS OTÁRIOS (Tommy Wine Beer)



Chegamos à festa. Dois clichês de álcool ambulantes. Havia muito mais homens que mulheres. Muito mais gays que heteros. E muito mais lésbicas que mulheres hetero.


Tinha um DJ também. Notei que depois de uma sequência de sons, o microfone era liberado pra alguém ler alguma coisa. Até que tava legal!

Além do mais a cerveja tava gelada, no fim das contas é o que importa.

Peguei um trago e já havia perdido o Paulinho de vista. Agora ele tinha muito trabalho pela frente. Um trabalho árduo pra cacete: descolar uma garota.

Se eu não conhecesse bem o nosso poeta “urder...” ele devia estar fazendo contatos, tentando descobrir quem era a anfitriã da festa. As anfitriãs de festas sempre estão muito excitadas e loucas quando oferece uma festinha, o que facilita as coisas para o nosso Don Juan.

Tomei mais duas latinhas e me deu aquela puta vontade de mijar. E o que é pior tinha comido um cachorro-quente que parecia estar revoltando-se em meu estômago. Precisava achar um banheiro mocó, em que eu pudesse relaxar, por que a coisa ia ser feia, com muitos flatos barulhentos e um fedor infernal.

Já tava bebaço, então subi umas escadas, certo que ia encontrar uma suíte lá em cima, pra cagar com privacidade.

Achei! Virei o trinco. Aberta! Havia uma baita cama linda. Um computador. Um pôster do Dylan, outro do velho Kerouac, e um do subcomandante Marcos. Bacana a decoração mesmo!

Outra portinha. Era o banheiro. Entrei, cerrei a porta e com as luzes apagadas, comecei a cagar. Ás vezes, a vitória pessoal de um homem se resume a um gesto tão prosaico, pensei, cá com meus flatos. Cagar! Basta fazer um cocôzinho e um cara pode reorganizar seus pensamentos! Acho que essa reflexão era do Velho Safado. É não podia ser minha. Pensei em Malia, meu amor, e em minha maldita escrita. Será que eu estava evoluindo como escritor? “Ploft”, um cagalhão e tanto bateu na água que respingou em minha imaculada bunda branca de blogueiro.

Ouvi um barulho, a porta do quarto se abriu. Ouvi vozes. Havia uma voz de garota. E, Putz, era a voz do Paulinho, o grande Paul triunfara novamente! E eu ali, seria pego literalmente com as calças na mão? Como a sorte de um homem pode mudar assim tão depressa? Porra! Raios Triplos pensei, parafraseando o Dick Vigarista. Sim, era o que eu era: um vigarista.

Havia uma chance. Eu podia ficar em silêncio. Era só o meu cu não me trair e dar um estrondoso peido. Que talvez eles fodessem e voltassem para a festa sem me dar o FLAGRANTE. Silêncio cuzinho, por favor!

Fiquei ouvindo a conversa deles. A garota era mesmo a dona da casa. Chamava-se Mariana. Trabalhava na livraria Cultura. Mariana “Fante” era seu pseudônimo. Duvido que o Paulinho tenha lido Fante, ele era fissurado em quadrinhos e aquela baboseira oriental do tipo Gibran. Talvez o pau dele tivesse lido! Que sortudo!

Ela tava numa de “papo cabeça” pra cima do Paulinho. E ele de PILEQUE, e, provavelmente, com uma EREÇÃO louca, devia estar encontrando dificuldades pra se concentrar no discurso da menina. Como a vida é trágica, louca e empolgante! E eu ali cagando!

Porra, ela tava bombardeando o cara de informação e questionamentos:

“Nós os blogueiros somos a resistência, somos os neo-beatnik’s... os neo-punk’s...os neo-cyber-guerrilheiros-contra-culturais...”

“E nós éramos mesmos”, pensei! Senti até certa latência no meu pau, não tinha nada a ver com o lance do eventual sexo que rolasse entre a Fante e o Paulinho, eram as suas palavras, só as palavras, nada de sacanagem, eu tinha uma garota, e não era chegado em surubas, nem em voyeurismo, muito menos naquela modalidade AUDITIVA, que eu talvez estivesse inaugurando, em meus eternos delírios de vanguardismo!

Agora era Paulinho, em sua contra ofensiva. Muito ASTUCIOSA, registre-se. Tirou sua camisa pra mostrar sua tatuagem. Uma boa tatuagem! Ajudei-o a bolar a ideia. E o desenho era dele mesmo! Nada mais, nada menos do que JESUS e CHE GUEVARA bebendo juntos.

Claro, ela achou o máximo! E mostrou-lhe uma teta, com a seguinte mensagem: “seja marginal, seja herói!” Aquilo enlouqueceu de vez o Paulinho!

Mariana veio com uma teoria antropológica sobre as tatuagens, ela disse:

“Bah!, tive um insight cara! As tatoos...inclusive eu adoro fotografar tatoo. (...) E o teu blog, sob este PRISMA, ele tem esse VIÉS que em termos de SEMIOPTICA...?

Paulinho tava ficando PUTO. Partiu pra uma técnica intitulada kamikaze, de autoria de um colega de blog, o Fogueirinha:

“Olha, vem cá, sua puta, olha aqui o meu blog!”

E foi abrindo o feixe da sua calça...

Ela contra-argumentou, SECA e MORDAZ, como um Bukowski de buceta:

“Mas isso não parece um blog, com muito boa vontade um TWITTER.”

Aquelas palavras doeram ATÉ em mim. Como um soco de Sugar Ray Robinson. Um direto dele!

Paulinho ainda teve jogo de cintura de dizer:

“Com licença senhorita, está tocando os Dire, e confesso que esta canção é como um imã a me atrair para a pista de dança...”

“Ah, vá se foder cara! Some daqui!”

“Que puta insolente!,” pensei. Aquilo tinha extrapolado! Me levantei com o rabo sujo, abri a porta e disse:

“Olha aqui sua puta”, quando olhei pro seu rosto ela havia apagado! A melhor vingança que consegui pensar foi em NÃO dar a descarga. Deixei toda a merda lá, pra ela admirar a obra-prima de um colunista dos “sandynistas”.

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